10 de julho de 2014

Luiz Domingues: "gravei o disco de 1989 empurrando com a barriga".

William Kusdra, rocker responsável pelo site Disicplina Frustrada, realizou, em 20 de Junho deste ano, uma extensa entrevista com o Luiz Domingues, baixista e membro fundador d' A CHAVE DO SOL. Ao longo das 18 extensas respostas às bem sacadas perguntas, o blog: A CHAVE DO SOL foi citado. Como agradecimento, separamos as partes que consideramos fundamentais aos fãs da seminal banda de Hard Rock, que ilustramos com algumas imagens de nosso acervo.

A CHAVE DO SOL é uma banda super consagrada no cenário roqueiro brasileiro. Inclusive possui um blog onde conta a história da banda. Como foram os primeiros ensaios, os primeiros shows...Teve até uma participação especial do Percy Weiss em algumas apresentações. Conte como foram os primeiros momentos da banda.

Luiz:  Muita água passou por debaixo da ponte, antes que eu chegasse ao momento em que fundei A CHAVE DO SOL com o Rubens Gióia e Zé Luis Dinola. Nesse ínterim, eu havia crescido como músico e adquirido uma razoável experiência desde os passos iniciais de 1976 e em 1982, finalmente me achava apto para atuar numa banda autoral com propósitos sérios.
O começo da banda foi muito estimulante para mim. Era a valorização de cada primeira conquista, que era forjada na raça e determinação da banda, focada em seu objetivo.

De fato, o primeiro vocalista da banda foi o Percy Weiss, mas como convidado especial. Ele fez apenas os dois primeiros shows, e dali em diante, seguimos a nossa trajetória, tendo momentos em que assumimos o formato Power Trio ou no quarteto, com a presença de vocalistas. Além do Percy, tivemos outros quatro vocalistas na história da banda, em momentos diferentes : Verônica Luhr, Chico Dias, Fran Alves e Beto Cruz.

A banda teve fases muito boas no decorrer de sua carreira, mas confesso que a fase que mais gosto, é a desses momentos iniciais, entre 1982-1983, pela união, foco, garra e vontade de vencer que tínhamos. Claro que após os discos, exposição midiática e shows importantes, a banda alcançou vitórias expressivas e tenho ótimas lembranças de tais momentos, mas o período inicial é muito especial para mim, particularmente.


Luiz Domingues ao vivo com A CHAVE DO SOL em maio de 1984 na FAAP.

A gravação do primeiro disco da banda. Conte como foram os bastidores desse momento e como foi chegar a gravação dos álbuns seguintes.

Luiz: A gravação do primeiro disco d' A CHAVE DO SOL ocorreu em janeiro de 1984, no estúdio Mosh, em São Paulo, quando ainda ocupavam as dependências de um sobrado no bairro da Vila Pompeia, na zona oeste da cidade.

Não tínhamos muita experiência de estúdio nessa época. Eu havia gravado apenas uma faixa num disco de uma cantor de MPB, em 1980 e uma fita-demo do LÍNGUA DE TRAPO, até então. O Rubens havia gravado um compacto com a SANTA GANG, banda que geralmente abria os shows do MADE IN BRAZIL entre 1979 e 1983 e o Zé Luis só havia gravado fitas demo com sua ex-banda (CONTRABANDO, cujo guitarrista era o Tony Babalu, ex-MADE IN BRAZIL).

Mas tínhamos a nosso favor a precisão pelo esmero que tínhamos em ensaiar exaustivamente e o foco, que era total. Portanto, driblamos a inexperiência com tranquilidade, além do bom relacionamento que estabelecemos com o técnico do Mosh, um rapaz competente e solícito, que também se identificou conosco e muito nos ajudou nesse trabalho, chamado Robson T.S.

Já nos álbuns seguintes, foi muito mais tranquilo, com o amadurecimento da banda em todos os sentidos.

Com a saída do Rubens Gioia da banda, você continuou com nova formação e gravou um álbum como "The Key". Teve uma ótima repercussão mas não houve continuidade. Porque?

Luiz: A CHAVE DO SOL teve um desgaste interno muito grande por conta de termos nos iludido com as promessas vazias de um escritório de empresários que nos amarrou com um contrato de valores acachapantes. Estávamos num grande momento na metade de 1986, flertando com um voo mais alto, perto do mainstream, mas graças aos nossos esforços acumulados de quatro anos de labuta. Quando percebemos que os tais empresários estavam apenas lucrando com os contatos que nós já tínhamos, como uma sanguessuga surfista, sem nada fazer para agregar ou amplificar o "momentum", era tarde demais. Com isso, perdemos o embalo e bateu um desânimo muito grande em 1987, com conflitos internos bobos que eram perfeitamente administráveis, ganhando proporção maior do que o devido, minando-nos.

O Zé Luis foi pressionado fortemente pela família a investir num curso universitário e abraçar uma carreira tradicional e resolveu deixar a banda. Tentamos continuar, mas o clima estava ruim e assim gravamos o terceiro álbum, tirando leite de pedra, sem recursos, com pouco apoio externo e o clima ruim entre nós três sobreviventes.

Mas no final do ano, com o disco já sendo lançado, ficou insustentável a situação, pois o Rubens não quis mais participar, mas tínhamos compromissos de shows e TV para cumprir, já agendados, fora a dívida acumulada pela produção do disco, que correu por nossa conta, e sem apoio, portanto, não havia outra saída a não ser reformular a banda e prosseguir, nem que fosse só para saldar as contas.

Hoje em dia, eu lamento muito que tudo isso tenha ocorrido. Jamais quis que a banda parasse, tampouco reformulá-la com um line-up totalmente diferente. Indo além, na época eu considerei como continuidade, apesar de termos sido obrigados a mudar de nome pois o Rubens que tinha o registro oficial em sua posse, não permitiu que continuássemos a usá-lo.

Isso foi muito doloroso para mim, mas vendo hoje em dia, acho que mesmo sendo forjado a forceps, delimitou que A CHAVE DO SOL encerrara atividades e o que veio posteriormente, foi uma nova banda, ainda que identificada com a antiga, por laços artísticos.

O Beto Cruz teve um mérito extrordinário nesse processo pois liderou essa metamorfose. Confesso que estava exaurido em minhas forças e a ruptura com o Rubens havia minado a minha vontade de prosseguir, pois ficamos estremecidos dali em diante por muito tempo. Hoje estamos de bem, ainda bem e o amadurecimentos nos fez enxergar que ninguém traiu ninguém e jamais deveríamos ter parado, pela amizade e luta de tantos anos, mas simplesmente fomos vítimas das circunstâncias da época.

A despeito desse mérito incrível do Beto, que tomou toda a dianteira e reformulou a banda, eu nunca gostei do novo direcionamento que ela adotou posteriormente por conta da influência que os novos membros trouxeram. O som ficou calcado no virtuosismo extremado, com ranço de Heavy-Metal, e eu queria mais é voltar para as minhas raízes sessenta-setentistas.

Fui "empurrando com a barriga", gravei aquele álbum de 1989, mas não aguentei mais e pedi demissão.

Nada contra os novos membros, que são ótimos músicos e amigos legais, mas o direcionamento adotado nunca me agradou.

Luiz Domingues no show de lançamento do disco gravado pela A CHAVE sem sol.

E a PATRULHA DO ESPAÇO como entrou na sua vida? Tocar ao lado de uma verdadeira lenda do rock brasileiro, o batera Rolando Junior, é um prazer enorme. Como foram esses tempos na banda. Foram 5 anos de Patrulha?

Luiz: Eis aí outra história longa...bem, aqui preciso exercer o poder da síntese, portanto, digo que após minha saída d' A CHAVE / THE KEY (a dissidência d' A CHAVE DO SOL), fiquei entre 1990 e 1991 sem uma banda autoral oficial e emendei inúmeros trabalhos efêmeros, projetos que não vingaram etc. Até que no início de 1992, recebi o convite do vocalista/guitarrista Chris Skepis para fazer parte de uma nova banda chamada PITBULLS ON CRACK, com proposta sonora e estética totalmente diferente de tudo o que fizera anteriormente na vida. Topei participar como um desafio pessoal e por lá fiquei até 1997, gerando um monte de histórias legais e com momentos até significativos, com exposição midiática, inclusive. Todavia, chegou um momento em que também me desgastei com a proposta (jamais com as pessoas, quer são meus amigos até hoje) e saí. E esse é o ponto inicial da Patrulha, embora na prática, a "nova" Patrulha só tenha se reunido para valer em 1999.

Isso porque eu resolvi montar uma banda 100% calcada na estética 60/70, sem concessões e/ou preocupações com a mídia, show business, mercado etc etc. O objetivo era fazer o som que curtia, voltando para 1968 e resgatando o molequinho que gostava dos THE BEATLES, JIMI HENDRIX EXPERIENCE e THE ROLLING STONES. Para essa empreitada com ares de "Haraquiri mercadológico", coloquei dois garotos imberbes e inexperientes, mas com um talento nato absurdo, que havia conhecido na minha sala de aulas (dei aulas de baixo entre 1987 e 1999), durante os anos noventa, chamados : Rodrigo Hid e Marcello Schevano. Era como se eu fosse um olheiro de futebol e descobrira num campinho, dois moleques, um chamado Neymar e o outro, Ronaldinho Gaúcho...

Mais que o talento nato de serem multiinstrumentistas, cantores, arranjadores e compositores, apesar da pouca idade e do anacronismo natural, eram doidos pela estética dos anos 60 e 70, sem que eu precisa-se "doutrina-los"...

Com essa dupla e a presença do meu velho amigo José Luiz Dinola (ex- A CHAVE DO SOL), passamos o fim de 1997 e o ano de 1998 inteiro ensaiando e compondo o material dessa banda que fora batizada como SIDHARTA.

Mas no início de 1999, o Zé Luis sentiu-se desconfortável pelo nosso radicalismo em soar retrô e não conseguindo nos demover dessa determinação em prol de ideias modernosas que queria introduzir, resolveu deixar a banda, infelizmente.

Sem baterista, mas com 21 músicas prontas e arranjadas na bagagem, fizemos uma lista de possíveis bateristas que se encaixariam nesse espírito retrô que queríamos. Claro que não haviam muitas opções nesse nicho assim fechado num ideal. Aí demos uma tacada ousada, convidando o Rolando Castello Junior.

Ele adorou o material e impressionou-se com a versatilidade e qualidade dos garotos, mas deu a sua "contratacada", nos demovendo da ideia de iniciar o trabalho como SIDHARTA, uma banda zero KM, sem contatos, sem apoio e sem dinheiro. Como PATRULHA DO ESPAÇO, já sairíamos com um nome de prestígio em mãos e seria mais fácil do que arrancar da estaca zero.

Dessa forma, trouxemos o material do SIDHARTA para a banda, ensaiamos os seus clássicos e assim colocamos a nave de volta no ar, com sangue novo. E o legal, é que o Junior embarcou no ideal e fez com que a Patrulha resgatasse suas próprias raízes setentistas, inclusive voltando a tocar músicas da época do Arnaldo, visto que Rodrigo e Marcello eram ambos tecladistas, também.



Luiz Domingues em foto que estampa a traseira do primeiro registro fonográfico d' A CHAVE DO SOL.
Foi um momento mágico para todos, portanto, e na minha autobio, conto com detalhes, pois propiciou um sem número de histórias. Aliás, fica o convite para ler a narrativa, no meu Blog 2, ou na comunidade Luiz Domingues do Orkut, que uso como plataforma de rascunho.

http://luiz-domingues.blogspot.com.br/
http://blogdoluizdomingues2.blogspot.com.br/
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=14081928

Conheça as bandas atuais do Luiz Domingues:

http://www.pedraonline.com.br/
http://www.reverbnation.com/kimkehloskurandeiros
http://www.reverbnation.com/artist/artist_songs/579876

Recomendamos a leitura da entrevista completa:
http://disciplinafrustrada.blogspot.com.br/2014/06/entrevista-com-o-musico-luiz-domingues.html

3 de julho de 2014

Fábio Ribeiro: "hoje é impossível ver Rock independente numa das principais emissoras do país".

Laura Gallotti, do site Brasil Metal História publicou, em 19 de junho de 2014, uma extensa entrevista com o músico Fábio Ribeiro. Considerado pelo site como o instrumentista menos lembrado nas bandas de rock, o tecladista tem carreira sólida nessa ceara complicadíssima, sendo mais lembrado pelas passagens pelo ANGRA e o SHAMAN, estando atualmente no REMOVE SILENCE. O blog: A CHAVE DO SOL foi citado na entrevista, por isso, como agradecimento, recortamos os trechos em o músico fala de sua passagem pela banda.

Confira o texto, chamado "Fábio Ribeiro: a busca pela verdade na música", integralmente, neste link:
http://www.brasilmetalhistoria.net/2014/06/fabio-ribeiro-busca-pela-verdade-na.html

Você participou da lendária banda de Hard Rock, A CHAVE DO SOL, que em 1988 passou a se chamar A CHAVE. Como foi a experiência?

Fábio: Foi uma época divertida. A CHAVE DO SOL foi minha primeira banda "profissional", que já tinha um público formado e certa estrutura. Entrei a convite de um dos roadies da banda, que estudava na mesma escola que minha namorada na época e havia ouvido uma demo da banda DESEQUILÍBRIOS, com a qual eu estava tocando após deixar o ANNUBIS. Eles estavam procurando um tecladista após a gravação do álbum “The Key” (1987). Eu nem sabia dirigir. Meu pai, também músico, sempre me apoiou e me levava aos ensaios. O primeiro show que fiz com eles foi no Teatro Mambembe em São Paulo, em dezembro de 1987, ainda com Rubens Gioia na guitarra e Ivan Busic (DR. SIN, ex-PLATINA, CHEROKEE etc), na bateria. Após a troca de formação, continuamos a viajar frequentemente. A banda também tinha um espaço razoável na mídia especializada e nos programas dedicados, na TV e no rádio. Foi uma experiência muito importante para o início da minha carreira, pois me ofereceram a oportunidade de começar bem cedo a aprender os truques da vida como músico profissional e os altos e baixos do show business underground brasileiro. Gravei um álbum com eles, “A New Revolution” (1989). Permaneci na banda até o final de 1989.

Fábio Ribeiro na época que ingressou para A CHAVE DO SOL.
Recentemente, o blog: A CHAVE DO SOL disponibilizou os videos completos do show no “Verão Vivo”, em 1988, no Guarujá, registrado pela TV Bandeirantes. Como era a recepção e a adesão do público a shows de Rock na época?

Fábio: Não creio que a recepção do público tenha mudado tanto assim. É uma coisa natural de qualquer pessoa absorver música de qualidade, desde que lhe seja apresentada. O problema está na extensão da onda de divulgação do estilo, que foi propositalmente encolhida a quase zero e que certamente reduziu este público drasticamente de lá para cá. A adesão diminuiu por esta razão. Eu não consigo visualizar hoje em dia um evento transmitido ao vivo em rede nacional por uma das principais emissoras do país com dezenas de bandas de Rock independentes, por exemplo. Mas vejo "artistas" dessa nova "música" brasileira recebendo cachês exorbitantes pagos com verbas públicas para animar eventos deste porte e simultaneamente promover arrastões e saques com sua ideologia pra lá de discutível. O que se fez com o Rock no Brasil, principalmente de uma década para cá, pode ser chamado de assassinato. Grandes, médios e pequenos estão sendo exterminados. Coisas incabíveis estão sendo esfregadas na nossa cara (...) Mas o show no “Verão Vivo” me traz ótimas lembranças. Quando A CHAVE mudou de formação, inicialmente entraram dois guitarristas - Edu Ardanuy e Theo Godinho -, fizemos alguns shows assim e depois somente o Edu permaneceu. Através dos anos participei de diversos projetos com o Theo, que faleceu recentemente. Um excelente guitarrista e grande amigo que deixou saudades.

Você também participou de outra grande banda brasileira de Hard Rock, o ANJOS DA NOITE, que teve como guitarrista em uma primeira fase o Edu Ardanuy, com quem você já havia tido contato por meio d' A CHAVE DO SOL. Como surgiu o convite para participar do grupo?

Fábio: O convite veio através do próprio Edu, que deixou A CHAVE para formar esta banda em 1989, ao lado de seu irmão, e também guitarrista, Atila e do vocalista Marco Sergio (Bavini), filho do cantor Sergio Reis. Permaneci na banda por cerca de um ano e meio. Foi uma experiência muito legal estar em uma banda que estava dando um passo além, para um reconhecimento pela grande mídia e por um público mais abrangente. Todavia, a carreira da banda foi como uma volta de montanha russa, pois o próprio estilo, o Hard Rock, já estava sendo literalmente engolido pelo Grunge lá fora e aqui no Brasil nunca teve força razoável para se tornar um estilo de música popular. Mas foi muito divertido enquanto o combustível do foguete durou.

A sua incursão pelo Rock progressivo pode ser sentida por meio da participação na banda paulistana VIOLETA DE OUTONO, que trazia um som mais psicodélico. Como foi a experiência?

Fábio: Toquei com o VIOLETA DE OUTONO entre 1997 e 2001, gravei vários trabalhos com eles, incluindo um disco ao vivo. Sempre gostei do clima da banda, desde que apareceram na cena nos anos oitenta, quando tiveram um bom destaque na mídia. Sempre os considerei mais ousados do que o que estava rolando na época, um som mais experimental, mas que ainda cativava os ouvidos mais simplistas por ser naturalmente agradável. Certa vez dividimos o palco em um festival, quando eu ainda tocava com A CHAVE DO SOL, mas viemos a nos conhecer apenas dez anos depois, em uma festa de Helloween na qual o Zé do Caixão fechou a noite com um show bizarro e um caixão de verdade foi sorteado entre os participantes. Fizemos diversos shows, muitas jams no estúdio e viajamos bastante. Um período muito agradável.

O blog: A CHAVE DO SOL tem em seu acervo outra entrevista com Fábio Ribeiro, concedida ao fã clube de ANDRÉ MATOS, em que o músico diz que se sentiu lesado por BETO CRUZ e que "A New Revolution" é seu pior registro. Confira abaixo:

http://achavedosol.blogspot.com.br/2012/04/fabio-ribeiro-tecladista-relembra-sua.html