14 de setembro de 2012

1990-1991, a fase Kiko Loureiro.

Depois do SEPULTURA, a banda nacional mais famosa do Brasil, nacional e internacionalmente, dentro do Heavy Metal é o ANGRA. Só por isso, já seria um mérito enorme que o celebrado guitarrista original da banda do ex-VIPER André Matos tenha começado a carreira na A CHAVE. E mais, esse mesmo guitarrista está hoje numa das quatro bandas de Thrash Metal mais bem-sucedidas do mundo, que é o MEGADETH. Estamos falando, é claro, de Kiko Loureiro.

Nascido no Rio de Janeiro em 1972, para entender a entrada do músico chamado Pedro Henrique Loureiro, é preciso contextualizar a situação que A CHAVE passava em 1990. O grupo havia se formado em janeiro de 1988, após Rubens Gióia encerrar A CHAVE DO SOL no mês anterior e com isso a banda teve de mudar de nome para saldar dívidas e cumprir compromissos do disco então recém-lançado "The Key". O nome escolhido foi homônimo ao grupo paranaense dos anos 1970. Essa banda adquiriu identidade própria ao cantar só em inglês e investir numa sonoridade mais virtuosa e, ao que acreditavam, nos padrões do Hard Rock da época.


Kiko Loureiro no show de lançamento do disco "A New Revoltion" em outubro de 1990 em São Paulo.
Após muito se esforçarem e lutarem para registrar seu som em vinil (ver capítulo anterior -  A SER ESCRITO), A CHAVE passou pelos mesmos sofrimentos que quase todas bandas pesadas nacionais sofreram nos anos 1980: comiam o pão que o diabo amassou e pisoteou para conseguir lançar um disco e então a falta de apoio e as tensões causadas no processo faziam o grupo acabar. A primeira baixa foi o baixista (que trocadilho) Luiz Domingues. Único membro original d' A CHAVE DO SOL abandonou o navio, pois a sonoridade do grupo não o agradava em nada e ele gravou o disco como se estivesse fazendo um favor ao amigo Beto Cruz. Insatisfeito pela mixagem final feita pelo vocalista, Fabio Ribeiro alega ter se sentido lesado do pelo ego do companheiro, deixando A CHAVE sem tecladista. Ribeiro foi para o ANJOS DA NOITE, grupo o qual o guitarrista Edu Ardanuy já fazia parte e decidiu fincar ancora nele. Finalmente, o baterista Zé Luis Rapolli não quis continuar com o grupo.



Sozinho, porém determinado em seguir com o grupo, Beto Cruz ainda levaria A CHAVE a fazer história; mas de outra maneira. O contrato com a Devil Records foi comprida e após quase um ano da gravação, "A New Revoluion" estava pronto para ser lançado. Aqui a confusão de nomes ficou ainda mais complicado de ser entendida. O disco foi editado como se gravado por um grupo chamado THE KEY e quando foi lançado oficialmente (05 e 06 de outubro na extinta Woodstock em São Paulo), por sugestão de uma numerologista, a banda se chamava A CHHAVE.

O próprio Beto havia mudado seu nome artístico, seguindo sugestão da mesma numerologista que sugeriu A CHHAVE mudar de nome. Agora ele assinava Roberto Malltauro, suprimindo o Cruz, sobrenome do pai. O sobrenome Malltauro vinha de sua avó materna. Posteriormente, para aumentar a confusão o nome dos bateristas d ' A CHAVE DO SOL  e d' A CHAVE era muito parecido, levando a dúvida se não seria o mesmo músico com o sobrenome diferente, tal qual houve com o vocalista.

O LP "A New Revolution" do THE KEY vêm formato gatefold (capa dupla), sem encarte, mas com fotos e letras das músicas.
.Já sob o nome de A CHHAVE, o Beto, mais uma vez demostrando seu grande talento em identificar talentos prodígios, recruta o guitarrista Kiko Loureiro para o lugar do futuro membro do DR. SIN. Ainda que muito novo na época, Loureiro, nas palavras de Beto, "já quebrava tudo". Completavam o time Gustavo Winkelmann, ex aluno e roadie de Ivan Busic, na bateria, o tecladista Marcelo Castilha, de formação mais jazzistica-setentista. O baixista do grupo chamava-se Hermes (ex- SABOTAGEM, grupo abrira para A CHAVE DO SOL no Teatro Lira Paulistana em 1985).

"E sobre o Pedro "Kiko" Loureiro, pareceu-me muito determinado do que queria na vida, e sendo ainda mais jovem que o Eduardo Ardanuy, quando este entrou naquela A CHAVE, de 1988, demonstrava também uma técnica impressionante, e totalmente calcada em guitarristas virtuoses da egrégora de Yngwie Malmsteen, Steve Vai e congêneres.

"Na sua performance.mostrou uma postura de palco frenética, assemelhando-se ao Eddie Van Halen, correndo e pulando o tempo todo, demonstrando condição atlética, diferente do Edu que era bem comedido nesse aspecto, tocando parado, focado no instrumento".

Luiz Domingues em sua auto-biografia.

Poster da formação original d' A CHHAVE que saiu na Rock Brigade em 1990. Da esquerda para a direita: Hermes, Kiko Loureiro, Marcelo Castilha e Gustavo Wilkemman. Sentado: Beto Cruz.
De última hora, o baixista Hermes recebeu uma proposta de outro grupo e foi a primeira baixa n' A CHHAVE. Ele saiu no poster, porém não continuou no conjunto. Com a data do show próxima, a solução foi chamar à título de emergência o baixista Luiz Domingues. Pela amizade e determinação pela gana do vocalista Beto em manter o conjunto ativo, Domingues aceitou fazer essas duas datas lançando o disco que ele gravou com outra banda.

"Então, foi uma das situações mais bizarras da minha carreira, pois eu fui tocar como convidado de uma banda que eu não pertencia, mas havia sido membro de sua, digamos, 'encarnação anterior', mas que reformulara-se inteiramente e até um novo nome tinha, e que por sua vez, em sua origem, havia sido uma banda montada emergencialmente para suprir as necessidades inadiáveis de uma banda recém dissolvida, chamada A CHAVE DO SOL... Era para dar um nó na cabeça de qualquer um...".Luiz Domingues em sua auto-biografia.


Beto Cruz e Kiko Loureiro ao vivo em 1990.











































Os shows contaram com público pagante de, respectivamente, 70 e 150 pessoas. Ainda que tendo ocorrido em clima de confraternização e vitória, Luiz Domingues sai do grupo para continuar perseguindo suas raízes sessentistas e setentistas, como havia acordado antes dos concertos. À partir dai temos poucas informações de como a divulgação do LP, dos set-list e o que mais A CHHAVE fez. Não obstante, sabe-se que ainda no final de 1990 assumiu o baixo Carlos Zara Filho, que era conhecido como "Zarinha", e era filho do famoso, e já falecido ator, Carlos Zara. É desconhecido se mais shows ocorreram com essa formação;

Não obstante durar menos de um ano, essa formação chegou a compor e dedicar algum tempo em estúdio, que resultou em um demo de quatro músicas "bem legais por sinal", na opinião de Beto Cruz. O baterista Gustavo Wikelmman, todavia já havia saído do grupo, ficando sem substituto.

"Alguma chance dessas musicas sairem? Nao sei", responde o vocalista ao blog: A CHAVE DO SOL. "Porque apesar de estarem legais, foi apenas uma demo com bateria eletrônica...", finaliza Beto. Os anos noventa chegavam com tudo e com isso uma mudança de proporções nunca antes vistas assolava o cenário musical. Era a emergência do grunge no mainstream e no undeground o Hard Rock perdia espaço tanto para o metal melódico quanto para o extremo. Fora o desânimo advindo disso, o vocalista Beto (agora o dono da banda) já manifesta o desejo de morar no estado da Flórida nos Estados Unidos. Cruz, ou  Malltauro, já havia visitado várias vezes o país yankee, decidindo por se fixar na cidade de Fort Lauderdale (onde inclusive moram muitos latinos) para seguir uma promissão formal e formar família.

Assim, em meados de 1991, Beto Cruz encerra oficialmente a carreira d' A CHHAVE, grupo formado das cinzas d' A CHAVE, banda formada no desespero do fim d' A CHAVE DO SOL. Não se sabe a ordem que os músicos deixaram a banda, mas somente Kiko Loureiro conseguiu uma carreira sólida, sendo chamado para entregar o ANGRA. Havia chego o tão evitado momento de encerrar as atividades por uma década; até que outro grupo de guerreiros ressurgisse levantando o nome A CHAVE DO SOL.

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