A CHAVE DO SOL teria se apresentado com seu power trio clássico (o baixista Luiz Domingues, o guitarrista Rubens Gióia e baterista José Luiz Dinola) mais um vocalista convidado em julho de 2020 no Teatro Cacilda Becker, na Lapa, em São Paulo. Seria a primeira vez que o veterano baixista Luiz Domingues, ativo profissionalmente no Rock Nacional desde 1976, tocaria com sua antiga e querida banda desde 1987. Havia muita expectativa por parte dos fãs e da própria A CHAVE DO SOL, já que Domingues não havia participado de nenhum evento anterior de reunião.
A pandemia do novo coronavírus inviabilizou o projeto, que coincidiria com o lançamento de um pacote de seis álbuns bootlegs (discos piratas) com material inédito de estúdio e ao vivo e mais uma coleção de almofadas da banda. Um golpe muito mais duro veio em janeiro do presente ano, 2021, quando o guitarrista e membro fundador Rubens Gióia, infelizmente e de maneira inesperada, veio a falecer. O blog: A CHAVE DO SOL conversou com Luiz Domingues e fez duas entrevistas: uma contando como seria esse show que reuniria o power-trio clássico do grupo após 34 anos e outra focado no lançamento dos bootlegs.
Confira agora a primeira parte do bate-papo e saiba em pormenores como se deu todo o processo em volta desse esperado show de reunião que não aconteceu. Quais músicas, formação, ondes e porquês serão respondidos nesta primeira etapa que inclui a intenção de se realizar um show tributo homenageando o guitarrista Rubens Gióia.
Luiz Domingues se apresentando com EDY STAR + OS KURANDEIROS em 2017. Foto: Carol Mendonça.
01 - Luiz, o Rubens vinha tentando voltar com A CHAVE DO SOL desde os anos 2000. De verdade, a ideia de juntar o power trio clássico surgiu por parte do Rubens em 1989. Nas cinco tentativas anteriores você não estava envolvido, só chegando a ensaiar uma vez para um concerto que não se realizou. Por que então você tinha aceitado voltar em 2020? O fato de ser o convite de um produtor e não uma iniciativa da própria banda ajudou? Seria só um show ou uma volta mesmo?
Luiz: Sim, exatamente foi o que você disse. O Rubens articulou a volta da banda desde 1989. Em cada uma dessas tentativas que ele fez anteriormente, eu estive envolvido com outros projetos e não foi possível participar. Sobre essa tentativa de 1989, por exemplo, eu estava comprometido para gravar o álbum do grupo: THE KEY, "A New Revolution" e lastimei muito a situação, pois eu não gostava esteticamente daquele trabalho e teria sido a melhor solução reativar A CHAVE DO SOL para o meu gosto pessoal e desenvolvimento de carreira, mas eu não poderia deixar o Beto Cruz em uma situação difícil, tendo em vista todo o esforço que ele fez para criar e manter de pé esse trabalho do THE KEY. E também aos companheiros, Rapolli, Ardanuy e Ribeiro, que foram tão solícitos quando montamos essa banda às pressas, portanto foi uma ironia do destino que me impediu de participar da reconstrução d' A CHAVE DO SOL, que teria sido o ideal.
Nos anos posteriores, quando o Rubens produziu a apresentação d' A CHAVE DO SOL no programa "Musikaos", em 2000, eu estava firme com A PATRULHA DO ESPAÇO e ficou inviável.
Em 2005, houve mais uma possibilidade, mas eu estava com o PEDRA, e como a banda ainda gravava o primeiro álbum e não estava preocupada em marcar shows nessa fase, eu aceitei o convite e cheguei a realizar um ensaio com o Rubens e o José Luiz, mas houve uma dificuldade para se convocar um cantor e no caso, teria sido o ator/cantor/instrumentista, André Frateschi, que é um ótimo cantor por sinal, mas este artista não pode participar por uma questão de agenda conflitante. Então um outro cantor foi acionado (não sei o nome desse outro rapaz, que era um contato do Rubens) e este demorou para responder e assim, ante a inviabilidade de se arrumar uma terceira opção de cantor, foi desmarcado o show. Nessa ocasião de 2005, eu queria fazer o show como Power-Trio, a reativar os sons dessa fase da nossa banda, mas os colegas queriam que houvesse um cantor de ofício e com o Beto Cruz a morar nos Estados Unidos e a dificuldade para arrumar um cantor aqui, não deu certo.
Em 2007 foi o show na Virada Cultural de São Paulo, certo? Bem, desta vez eu não quis tocar por estar a atuar com o Pedra, com disco novo sendo gravado etc e tal.
Em 2012, foi o Luiz Calanca que articulou a oportunidade e o Rubens insistiu bastante para eu participar, mas o Dinola não quis e assim eu não desejei participar de uma aparição sem a base primordial unida e assim, o Rubens fez sozinho, como único da formação original, com três músicos muito bons de apoio.
Houveram mais tentativas posteriores. Entre 2015 e 2017, o Rubens me abordou muitas vezes, ele quis inclusive entrar em estúdio para gravar músicas novas, mas desta vez, o Dinola se mostrou sem vontade para participar.
Desta vez de 2020, da minha parte quando surgiu esse convite do Gegê Guimarães, eu senti que seria diferente, pois eu havia participado de reuniões nostálgicas com duas ex-bandas (PATRULHA DO ESPAÇO e PEDRA), bem recentemente e havia gostado da experiência de rever velhos companheiros e tocar as músicas desses respectivos trabalhos. Portanto, despertou-me um sentimento bom sobre promover a mesma celebração com A CHAVE DO SOL. E houve um dado a mais: eu já estava a preparar a produção do lote com discos bootlegs da nossa banda e o show teria sido uma ocasião maravilhosa para promover o lançamento oficial de tais álbuns.
A CHAVE DO SOL em foto promocional de 1985: Rubens Gióia, Fran, Luiz Domingues e José Luiz\ Dinola. Essa formação está no quinto volume dos seis bootlegs lançados, no cd intitulado "Teatro Lira Paulistana 1985".
02 - Para o show de retorno vocês haviam optado por um vocalista que também tocasse guitarra e até teclado, que é o Rodriho Hid, do PEDRA e da PATRULHA DO ESPAÇO. Pela versatilidade do Rodrigo, vocês poderiam mudar alguns arranjos e convenções nas músicas. Que temas iriam tocar, quais seriam as contribuições dele, que músicas teriam alteração ou adição de teclado?
Luiz - Exatamente isso! Já sabedor que seria difícil contar com o Beto Cruz, eu gostaria de reativar o Power-Trio, mas como eu tive a certeza de que Dinola e Gióia insistiriam em contar com um vocalista, eu de imediato sugeri o Rodrigo Hid. Toquei em três bandas com ele, Hid: SIDHARTA, PATRULHA DO ESPAÇO e PEDRA, portanto sei do potencial dele como cantor e multi-instrumentista e o Dinola também o conhece bem pelo SIDHARTA e por bandas cover que ambos tiveram por muitos anos. A minha ideia foi que o Rodrigo cantasse todas as músicas, com exceção de "Luz" que eu pedi ao Rubens para cantá-la e assim preservamos ao máximo a identidade natural da nossa gravação para o compacto de 1984. Eu falei com o Hid para ele cantar e tocar mais teclados. Estava ansioso para tocar as músicas da nossa banda com esse tipo de apoio e imprimir uma sonoridade super setentista para as músicas e creio que ele tocaria guitarra apenas em "Saudade" exatamente para ser reproduzido o som de dueto que o Rubens gravou para a demo de outubro de 1986. Sobre o repertório que havíamos decidido tocarmos no show, seria esse:
01) Luz
02) 18 Horas
03) Anjo Rebelde
04) Um Minuto Além
05) Crisis (Maya)
06) Intenções
07) Átila
08) Sun City
09) Saudade
Bis:
10) A Dança das Sombras
Luiz Domingues e José Luiz Dinola junto com Rodrigo Hid, participando da gravação do disco solo do último, em março de 2017.
03 - O Rodrigo Hid seria outro ex-membro da PATRULHA DO ESPAÇO a tocar n' A CHAVE DO SOL, fazendo o caminho inverso seu e do Rubens. Vocês já pensavam em chamá-lo em 2014 no projeto A PATRULHA DO SOL, que acabou não se realizando?
Luiz - Bem, essa ideia partiu do Rubens, mas ele se precipitou ao insinuar publicamente a sua intenção, antes mesmo de consultar o Rolando e este não gostou dessa impertinência. Acho que a ideia era até interessante, mas o Rubens se precipitou, pois deveria ter consultado a todos previamente e pelo que eu saiba, ele só havia falado comigo e ao deixar vazar a possibilidade, irritou o Rolando e convenhamos, com razão. Mas seria apenas para um show a ser realizado na Virada Cultural, não seria uma banda doravante. Sobre a presença do Rodrigo Hid, não foi cogitada a hipótese. A ideia original foi misturar músicos que haviam sido membros das duas bandas, daí o trocadilho "Patrulha do Sol" e na ocasião, o Hid não tinha vínculo com A CHAVE DO SOL para justificar a sua inclusão no projeto.
"Anjo Rebelde" executada com o saudoso vocalista Fran, faixa que consta na coleção de seis bootlegs d' A CHAVE DO SOL que o baixista Luiz Domingues lançou entre 2020 e 2021. Esse tema estaria no repertório do show que ocorreria em julho de 2020 no Teatro Cacilda Becker, em São Paulo, capital.
04 - Muito infelizmente, os planos de volta d'A CHAVE DO SOL foram prorrogados em primeiro momento por conta da pandemia do novo corona vírus. Já no começo deste ano de 2021, com enorme tristeza e surpresa da parte de todos, o guitarrista Rubens Gióia subitamente faleceu. Como tem sido para você lidar com a perda do amigo de tão longa data? Esse material sendo lançado se tornou uma homenagem ao Rubens?
Luiz - Pois é, a pandemia nos atrapalhou em cem por cento em uma primeira avaliação, mas o falecimento do Rubens foi um golpe ainda mais duro. Sobre o choque que tivemos ao saber da sua morte, foi muito grande, naturalmente. Por uma série de contingências ( pandemia incluso), eu fui o único companheiro de banda presente em seu triste velório. O Paulo "Paulinho Heavy" Toledo, ex-vocalista do INOX, também esteve presente, mas eu nem o reconheci na hora, devido às máscaras que todos usamos no dia. Portanto, foi um velório praticamente restrito aos familiares do Rubens. Foi um momento de dor que provocou reflexão, certamente, pois é claro que eu revi toda a nossa construção da carreira d' A CHAVE DO SOL, a amizade, o triste rompimento de 1987 devido ao mal-entendido etc. Não foi a intenção inicial, haja vista a obviedade que tais álbuns deveriam terem sido lançados com um grande show, com ele a tocar e a estar feliz por isso, mas claro que esses seis discos bootleg o homenageiam de forma póstuma.
Luiz Domingues em 1984, na época que A CHAVE DO SOL lançava seu primeiro registro fonográfico oficial, o compacto "Luz / 18 Horas".
05 - Em setembro do ano que vêm será o aniversário de 40 anos do primeiro show d' A CHAVE DO SOL. Você pensa em lançar mais material inédito ou fazer uma apresentação nesta data? Quem sabe até uma homenagem aos saudosos musicistas que fizeram parte do grupo?
Luiz - Segundo o Gegê Guimarães, a data que tínhamos em julho de 2020 está em aberto e se a pandemia for vencida de fato, existe a possibilidade de haver um show tributo ao Rubens e o Dinola e o Hid já sinalizaram que aceitam participar. Eu só não gostaria que usássemos o nome A CHAVE DO SOL, pois tal denominação sempre foi algo muito associado ao sonho particular do Rubens que ele acalentava desde a sua infância. Sobre novos bootlegs, eu tenho mais fitas sim, com muitos shows ao vivo do período 1986/1987 da formação como quarteto, com o Beto Cruz. Penso em produzir novos discos, mas dependerá das finanças, primeiramente e da pandemia ser extinta, igualmente.
Luiz Domingues com a discografia d'A CHAVE DO SOL, oficial e bootleg, transformada em almofadas promocionais, que seriam vendidas no show que não ocorreu.
Não perca a segunda parte da entrevista com Luiz Domingues falando dos seis discos bootlegs lançados entre 2020 e 2021 abrangendo o período de 1982 a 1986 d' A CHAVE DO SOL!
As faixas 06 e 07 são, respectivamente, covers de CARL PECKINS e THE JIMI HENDRIX EXPERIENCE. As faixas 08 e 09 são provenientes de uma Demo Tape de 1984. A faixa Segredos está sem vocal, mas é seu instrumental é bem parecido com a versão do EP de 1985.
A Chave do Sol. Teatro Piratininga / SP 1983. Segundo disco da série de bootlegs.
Rubens Gióia - guitarra e voz. José Luiz Dinola - bateria e voz. Luiz Domingues - baixo e voz.
Técnico de som 1983: Pérsio. Produção Sonora e visual em 2020: Kim Kehl. Apoio: Crossover Records.
01 . Átila (02:51). 02 . Luz (04:08). 03 . Utopia (02:44). 04 . Intenções (04:34). 05 . 18 Horas (07:24). 06 . Crisis (Maya) (04:03). 07 . Let Me In (Teenage Love Affair) (03:12) DERRINGER 08 . Blue Suede Shoes (02:47) CARL PECKINS. 09 . Black Night (04:03) DEEP PURPLE. 10 . Tie Your Mother Down (06:42) QUEEN. 11 . My My Hey Hey (04:40) NEIL YOUNG. 12 . Purple Haze (07:11) THE JIMI HENDRIX EXPERIENCE. 13 . Jumping Jack Flash (4:00) THE ROLLING STONES. 14 . Cocaine (02:37) J.J. CALE 15 . Blue Wind / Train Keept A Rollin' (04:25) JEFF BECK & JAN HAMMER GROUP. 16 . Wild Thing (04:05). THE TROGGS
A Chave do Sol. Ao Vivo 1982 / 1983. Primeiro volume da série de bootlegs.
Rubens Gióia - guitarra e voz. José Luiz Dinola - bateria e voz. Verônica Luhr - voz. Luiz Domingues - baixo e voz.
Convidada especial: Rosana Gióia, irmã do Rubens, nos backing vocals.
Foto: Renato Seize Ogawa. Produção sonora e visual: Kim Kehl Apoio: Crossover Records.
01 . Brown Sugar (03:36). 02 . Honk Tonk Woman (02:53). 03 . Muito Romântico (04:04). 04 . My My Hey Hey (04:42). 05 . O Contrário do Nada é Nada (02:44). 06 . Brown Sugar (03:32). 07 . Johnny B. Good (03:44). 08 . Jumping Jack Flash (04:35). 09 . Now I'm Here (04:29). 10 . My My Hey Hey (04:46). 11 . Honk Tonk Woman (03:04). 12 . O Contrário de Nada é Nada (02:31). 13 . Johnny B. Good (03:54).
As faixas de 01 a 07 foram gravadas em evento fechado em São Paulo, SP, no dia 31/12/1982. As faixas de 08 a 12 foram gravadas no Café Palheta's em São Paulo, SP, no dia 01/01/1983. Todas as músicas são covers.
As faixas 01, 02, 06, 08 e 11 são originais dos THE ROLLING STONES. A faixa 03 é original de CAETANO VELOSO. As faixas 04 e 10 são originais de NEIL YOUNG. As faixas 05 e 12 são original d' OS MUTANTES. As faixa 07 e 13 são originais de CHUCK BERRY. A faixa 09 é original do QUEEN.
A Chave do Sol. Ao Vivo em Limeira/SP 1983. Quarto disco da série de bootlegs. Registrado num show como banda de abertura para a PATRULHA DO ESPAÇO.
Rubens Gióia - guitarra e voz, José Luiz Dinola - bateria e voz. Luiz Domingues - baixo e voz.
01. Luz (04:20). 02 . Utopia (03:17). 03 . Intenções (04:32). 04 . 18 Horas (07:55). 05 . Átila (00:37). 06 . Blue Suede Shoes (02:49) cover de ELVIS PRESLEY (original de CARL PERKINS). 07 . Tie Your Mother Down (05:53) cover do QUEEN. 08 . Foxy Lady (03:27) cover do JIMI HENDRIX EXPERIENCE. 09 . Cocaine (02:32) cover do ERIC CLAPTON. 10 . My My Hey Hey (04:34) cover do NEIL YOUNG. 11 . Jumpin' Jack Flash (03:55) cover do THE ROLLING STONES. 12 . Blue Wind / Train Kept a Rollin' (04:14) cover de JEFF BECK WITH THE JAN HAMMER GROUP.
Fotos da capa e contracapa: Fábio Rubinato Produção de áudio e criação & lay-out de capa em 2020: Kim Kehl Apoio: Crossover Records
A Chave do Sol. Dose Dupla/1986. Sexto disco da série de bootlegs.
Rubens Gióia: Guitarra e Voz. Beto Cruz: Voz e Guitarra. José Luiz Dinola: Bateria e Voz. Luiz Domingues: Baixo e Voz.
Produção de áudio e criação & lay-out de capa em 2020: Kim Kehl. Apoio: Crossover Records.
01 . Saudade (04:48) 02 . Sun City (04:40) 03 . O Cometa (05:06) 04 . Solange (04:12) 05 . O que será de todas as crianças (04:27) 06 . Forças do bem (04:00) 07 . Saudade (04:40) 08 . Sun City (04:28) 09 . Trago você em meu coração (04:28) 10 . O que será de todas as crianças (04:13) 11 . Desilusões (03:20) 12 . Solange (04:02)
Faixas de 01 a 06 gravadas no Nosso Estúdio. em São Paulo / SP. Abril de 1986.
Faixas de 07 a 12 gravados no Studio V, em São Paulo / SP. Outubro de 1986. Técnico de som: Clovis Roberto da Silva.
“Foi engraçado, mas também bonito ver esse crescimento da banda de forma muito intensa. Parece incrível, mas diante de tantas fases que A Chave do Sol teve, essa foi uma das que mais curti, exatamente pela profunda esperança que sentia quando esse quarteto se fechou com a entrada da Verônica”.
(Luiz Domingues em sua comunidade no orkut).
O título de nosso post com certeza irá chocar muitos, mas sim, A CHAVE DO SOL teve uma mulher como vocalista. Ainda que a "fase Verônica" tenha durado menos de um ano, do fim de 1982 ao começo de 1983, os registros desse momento foram totalmente disponibilizados recentemente na internet. O texto a seguir foi escrito pelo baixista Luiz Domingues em forma de relato, mediante a perguntas realizadas por MARINHO ROCKER e MARCÃO no orkut e copilado por Willba Dissidente. Posteriormente (entre junho e julho de 2014), novos fatos e fotos foram adicionados de acordo com a autobiografia de Luiz Domingues.
Este post também integra nosso esforço em traçar uma biografia da banda de maneira análoga a que os professores hoje lecionam História: por pontos específicos e não seguindo a linha temporal; por isso já escrevi sobre os anos sem nenhum membro oficial, A CHAVE sem sol, e agora abordo os primórdios da banda. Aproveite a viagem e ouça a música ao final!
A Era Verônica Luhr: a Diva dos Olhos Azuis. OUTUBRO/1982 À ABRIL/1983.
Estávamos em Outubro de 1982, e o guitarrista Rubens Gióia lançou a idéia de que A CHAVE DO SOL precisava de um frontman. Ele então se lembrou de uma garota que ele havia visto cantando de forma amadora entre 1978 e 1980. No que pese a baixa qualidade do equipamento e o clima "de brincadeira", fortuito, da ocasião, Rubens convenceu os demais membros a fazerem uma audição com essa moça, que dizia ele "impressionava pela beleza física e a fantástica voz". Loira, olhos azuis, media mais de 1,80 e trabalhava como modelo do estilista Ney Galvão (à época rival de Clodovil). Quando então a garota começou a cantar, ganhou a vaga: "tinha uma voz incrível, lembrando ETTA JAMES, MAGGIE BELL e TINA TURNER"!
Verônica Luhr com A CHAVE DO SOL no Victoria Pub.
Ela se chamava Verônica Luhr. Era uma moça simples e bem agradável no tato social. "De certa forma, seguia a cartilha da maioria das meninas que ingressam nessa carreira de modelo, ou seja, vem de famílias simples dos estados do Sul, principalmente Santa Catarina e Rio Grande do Sul e são descendentes de italianos, alemães ou de pessoas de países do leste europeu", conta Luiz Domingues.
"Lembro-me que o fizemos de forma artesanal e o copiamos mediante xerox. Ele ficou tosco, grotesco mesmo. Vendo-o hoje em dia, parece algo deliberadamente feito daquela forma, dando-lhe aura 'cool' mas na verdade, era um horror feito nas coxas e de forma muito apressada para suprir a necessidade premente que tínhamos".
Vale ressaltar que nesta época A CHAVE DO SOL ainda tinha um set-list basicamente de covers do Rock 'n' Roll. Já existia material próprio, que continuava a ser composto. Por isso não importou que o inglês de Verônica ainda fosse "macarrônico" na ocasião. Não obstante , a banda incluiu "Proud Mary" (CREEDENCE) e "Acid Queen" (THE WHO), ambas na versão TINA TURNER, para que a moça soltasse a voz. Verônica tinha uma afinação excelente, porém nenhuma noção musical, era um talento bruto. "Arranjos, tonalidade, andamento", disso ela nada entendia. Porém, dando-lhe o acorde certo, ela cantava direitinho. Nas palavras do baixista: o vozeirão natural e bom ouvido eram suas melhores características". Como definiu mais tarde, "havíamos encontrado uma jóia rara, ainda que bruta, a carecer apenas de lapidação".
“Começou um boca-a-boca na rua, de que havia uma banda muito louca no Devil's, com um guitarrista que tocava JIMI HENDRIX imitando a performance de tocar nas costas e com os dentes do Hendrix; Um baixista alucinado que tocava com um chapéu pontudo de bruxo e uma vocalista incrivél que cantava muito com uma performance de palco muito animada...".
O show inicial da nova fase, em 20/11/1982, foi no colégio Manuel de Paiva. A irmã do Rubens, Rosana Gióia, estava junto fazendo os backing vocals. Foi um sucesso. Duzentas e cinquenta pessoas prestigiaram a apresentação, que teve uivos, aplausos e assédio no camarim, sendo a primeira vez que o grupo se apresentou "para uma platéia que não fosse exclusivamente de parentes e amigos". Mais e mais shows foram pintando: "Verônica assumiria uma importância tão grande na banda, que por conta de sua entrada, portas importantes se abririam logo a seguir, conforme esclarecerei logo mais", declarou o baixista no orkut.
Nota no Jornal Folha da Tarde sobre show no Devil's Bar em 1982.
Nesta época, o circuito roqueiro precorrido pela A CHAVE DO SOL era o Deixa Falar, Água Benta Bar e novíssima casa Devil's, de propriedade de Dona Sabine, na 13 de Maio (Bexiga). Lá a banda fez uma temporada logo após a apresentação no colégio. Esse foi o período mais divertido dessa fase, em princípios de 1983. Além das dificuldades técnicas, a Verônica apresentava outro empecilho, este mais grave: nervosismo antes de entrar no palco. Para criar aquela coragem extra na hora de subir no palco, ela forçava a extroversão, o que levava à situações recordadas pelo baixista: "em meio ao seu imprevisível arsenal de encenações improvisadas, lembro-me em ouvi-la a falar coisas inusitadas, criar uma linha gestual exótica e assim, a reação do público era de frenesi". Uma outra vez, após um movimento brusco, ela tropeçou e caiu no palco, se levantando rapidamente com o público acreditando ser parte do show. Porém Verônica não era a única elétrica no palco, já que A CHAVE DO SOL, nunca foi uma banda de ficar parada: Rubens tinha seus momentos hendrixianos, Luiz e Zé Luis extrapolavam no mise-en-scené, sem prejuízo à performance.
"O chapéu foi algo totalmente improvisado. Eu achei-o no quarto de despejo da casa do Rubens, enquanto o arrumávamos para se tornar a nossa sala de ensaios. Devia ser uma peça de alguma festa de fantasia que nem o Rubens se lembrava. Pedi para usá-lo de brincadeira e ficou legal, me lembrava o Ritchie Blackmore naquele promo do DEEP PURPLE...".
O baixista também relembrou que "eram comuns os gracejos masculinos (dirigidos à cantora), mas não podíamos evitar essas reações. O Rubens que era mais esquentado, esboçava reagir, mas para não estragar as apresentações, se continha em seu ímpeto protetor".
Algumas vezes, rapazes mais ousados saiam de suas mesas para ficar mais perto do palco e da vocalista. Uma única vez um deles tentou escalar o palco de mais de dois metros para estar perto da cantora. Na ocasião, Wagner "Sabbath", amigo que acompanhava a banda e será devidamente abordado no futuro, impediu o homem em seu intento abusivo.
O último show daquele ano de 1982 foi a festa de Reivellon na casa do guitarrista Rubens Gióia; o qual foi mais importante no futuro do que na sua realização. No dia seguinte, o primeiro de 1983, o grupo se apresentou no Café Palheta's, num show de igual importância arqueológica para o futuro.
Folha de São Paulo Show Água Benta 6 de janeiro de 1983.
As coisas iam de vento em popa, e A CHAVE DO SOL começou 1983 fechando uma temporada de dois meses no Victória Pub. Nesta casa, se apresentaram promissores nomes da emergente cena rock nacional, inclusive os cariocas do HERVA DOCE (de quem esse que vos escreve é fã), que á época haviam feito a abertura do show do KISS no Rio de Janeiro. Na primeira noite, nossos amigos tocaram no palco secundário, mas depois passaram a dividir a gig principal com o TUTTI-FRUTTI ou com o FICKLE PICKLE, dependendo da escala da noite. Tudo estava perfeito e promissor, não?
Passagem de som do último show no Victoria Pub, no qual Verônica não pode tocar por estar resfriada.
O cachê era extremamente alto se comparado ao que o grupo estava acostumado até então. Logo na primeira reunião do contrato, um dos gerente da casa os passou o regulamento do estabelecimento , horário de entrada para a passagem de som, horário de show e os advertiu sobre o cuidado em não falar "palavrões" ao microfone... além de pedir para A CHAVE DO SOL se trajar o menos riponga possível, "ainda bem que não pediu para cortarmos os cabelos", ri o baixista ao relembrar o episódio. Outra imposição, repertório tinha que conter alguns covers conhecidos e não só música autoral, além de que o volume não poderia ser excessivo. A pior de todas restrições era a clausula de exclusividade. A CHAVE DO SOL, enquanto durasse o contrato, estava proibida de agendar shows em outros lugares de São Paulo. Aparentemente, isso não era tão problemático assim; porém quando o contrato não foi renovado, como veremos à seguir, isso geraria perda dos antigos contatos.
Interior e público no Victoria Pub (Alameda Lorena, 1604, São Paulo/SP). 1982 / 1983.
Não obstante tantas proibições, a banda estava mais que feliz pela vitória que era se apresentar no Victoria aquela época. Músicos famosos, modelos, atores consagrados da TV, gente de Teatro e Cinema etc iam regularmente às noitadas no Victoria. O público era mais playboy do que rocker. Mesmo que demonstrando grande desinteresse pelos grupos, inclusive pelo TUTTI-FRUTTI (que nesta fase fazia mais covers que sons autorais), sempre dançavam e aplaudiam as bandas, gerando bem-estar nas apresentações.
A CHAVE DO SOL se apresentava nas noites de terça e quinta-feira. Os shows de grandes bandas do emergente "movimento Rock BR", como BARÃO VERMELHO, KID ABELHA e outras, aos sábados e sextas-feiras. O power trio paulista nunca assistiu apresentação dos mainstream, porém esperava que a proximidade com os nomes badalados, como que por osmose, acabasse por ajudar a alavancar a carreira d' A CHAVE DO SOL. Os músicos foram assediados por um dito produtor de "New Wave", que sugeriu que além de cortarem as madeixas, Rubens e Luiz pintassem cada um o cabelo de uma cor.
Em relação ao FICKLE PICKLE, este grupo tinha em sua formação os futuros GOLPE DE ESTADO Nelson Brito e Paulo Zinner. Logo formou-se um forte vinculo entre os membros das duas bandas. Muitos discos do GOLPE DE ESTADO tem agradecimentos a Luiz Domingues no encarte, pela ajuda e auxílio deste à banda. Porém, no primeiro contato foi o baixista Nelson Brito que ajudou Domingues. "O fato é que eu estava sem amplificador nessa época e usei o aparelho do Nelson nessas apresentações no Victoria (...) mal havia me conhecido e disponibilizou seu equipamento, numa gentileza que selou nossa amizade, de forma instantânea".
Fachada do Victoria Pub. Por volta de 1982, 1983. Fonte: Internet livre.
Ainda que estivessem proibidos de se apresentar fora do Victoria, A CHAVE DO SOL tocou, dentro da casa noturna, numa festa particular da Rede Globo. Tratava-se da comemoração pelo encerramento da mini série "Bandidos da Falange". Do programa, que abordava o submundo do crime no Rio de Janeiro", estavam presentes toda a equipe técnica, diretores e atores. Gente como Betty Faria, Roberto Bonfim, Gracindo Júnior e Júlia Lemmertz se esbaldaram e dançaram ao som d' A CHAVE DO SOL.
Pouco antes do final da temporada d' A CHAVE DO SOL no Victoria Pub, houve um acidente no palco durante a canção "O Contrário de Nada é Nada", d'OS MUTANTES e por descuido do baixista que se movia de maneira desarticulada enquanto tocava, a vocalista, infelizmente, foi acertada pela mão (headstoke) do instrumento de quatro cordas. O grupo continuou tocando e só após o fim do show o mesmo pode se desculpar. Felizmente, o acidente que poderia ter sido grave, não teve consequências.
Ao final da temporada de show no Victoria Pub, a cantora os informou que havia recebido a proposta de gravar um disco solo com contrato com uma gravadora major, sendo acompanhada por uma banda contratada. Devemos lembrar que Nelson Brito e Paulo Zinner, novamente, à época no FICKLE PICKLE, foram empresariados nessa época por um produtor que conheceram no Victoria Pub e inclusive lançaram um disco de New Wave, o PEPINO IRRITADIÇO. Verônica então decidiu abandonar A CHAVE DO SOL e seguir carreira solo sendo a protagonista de sua própria banda. "Ela sonhou com a possibilidade de ascensão e devo acrescentar que foi uma aspiração legítima de sua parte, portanto, nesse aspecto não caberia questionamento da nossa parte", garante o baixista.
“Sendo assim, quando acabou o contrato com o Victoria, ela saiu da A Chave do Sol e nós ficamos sem perspectivas imediatas, pois todo o embalo maravilhoso que havíamos pego desde outubro de 1982, foi para o ralo, pois estávamos sem outras datas e tendo que procurar às pressas um novo vocalista ou voltarmos ao formato de Power Trio, tendo que reestruturar todo o repertório para o Rubens ou o Zé Luis cantarem. Isso sem contar o prejuízo em perder uma vocalista do potencial sensacional que ela tinha. Se tivéssemos prosseguido e com a sorte de arrumarmos um produtor...”
A cantora estava resfriada e não compareceu no último show, forçando A CHAVE DO SOL a improvisar o repertório. O grupo ainda teve a desagradável notícia que seu contrato no Victoria Pub não seria renovado. Estávamos em abril de 1983 e A CHAVE DO SOL entrava em sua primeira curva descendente. Viriam três meses de aspereza pela frente, antes que altos da banda voltassem a sobrepujar os baixos...
Rubens arrasando nos trejeitos hendrixianos no Victoria Pub em começo de 1983.
"Não acompanhei se ela realmente gravou na época ou logo depois disso, infelizmente. Tomara que sim", afirma Luiz Domingues. Ele continua, afirmando que só em 1991 que ele foi ter outra informação da Verônica: "a vi no programa do Clodovil, na TV Gazeta, se apresentando acompanhada de uma orquestra, no teatro de arame de Curitiba. Era um tema "...com um arranjo bem conservador, mas mesmo assim, ela cantou muito bem, naturalmente e eu fiquei feliz por vê-la a atuar".
Foram períodos difíceis quando a vocalista se desligou do grupo e com isso os tirou de uma das melhores casas de show da época. Mágoas, ressentimentos ou similares? Não. "Ela comunicou-nos a sua decisão de uma forma decidida, certamente estava convicta de sua escolha. Tudo bem, foi uma aposta válida de sua parte", o baixista não receia em dizer. Luiz, ainda pondera e não poupa elogios à cantora de vida curta em sua banda, confira abaixo:
"A Verônica esmagaria impiedosamente cantoras dessa cena que estouraram, como Paula Toller, Virginie e Dulce Quental entre outras e só encontraria uma rival à altura na Cássia Eller. Por outro lado, estávamos em 1982 e a Cássia só estourou no meio/fim dos anos noventa, portanto, era outra geração".
No Victoria Pub, A CHAVE DO SOL tocou nos dias 1º, 2, 3, 9, 10, 17 e 23 de fevereiro de 1983, com públicos respectivos de 70, 120, 150, 200, 300, 170 e 250 pessoas ("nos assistindo, mas não refletindo o número de pessoas dentro da casa, pois eram muitos os ambientes e as pessoas se espalhavam"). Em março de 1983, tocamos nos dias 2, 9, 10, 15, 22 e 29, com público respectivo de 200, 250, 200, 300, 20 e 15 pessoas nos assistindo. O derradeiro show, ocorreu em 6 de abril de 1983, sem a presença da Verônica Luhr, com melancólico público de apenas 10 pessoas na plateia.
Encerrando este capítulo, existem duas versões da mesmas gravações d' A CHAVE DO SOL com Verônica Luhr nos vocais. Primeiro em 2012, o site Orra Meu conseguiu vencer essa batalha contra a "Deterioração temporal do K-7", possibilitando aos fãs poderem ouvir a Verônica ao ler a impressionante passagem dela pela A CHAVE DO SOL.
A gravação da mesma se deu de maneira inusitada. No show de 31/12/1982, de última hora, Rubens pegou uma fita gravada no seu carro. Espetou-se então um tape-deck caseiro na mesa do P.A. Gianinni com a referida fita K7. Do lado A gravou-se esse show, do lado B, o do Café Palheta's do dia seguinte. Com muita microfonia e sem possibilidade posterior de edição, o K7 ficou guardado por 30 anos, gerando muito trabalho para ser recuperado.
Só no segundo semestre de 2020 que registros completos com a vocalista Verônica Luhr foram disponibilizados. Trata-se do primeiro volume dos bootlegs, chamado "Ao Vivo 1982 - 1983". Tal lançamento faz parte da série de seis discos piratas oficiais lançados pelo baixista Luiz Domingues. Neste CD as músicas estão completas e com qualidade muito superiores que as disponibilizadas em 2012.
"(...) o fato é que ela cantava como uma Diva do Soul, Blues e Rock'n' Roll. Se ela tivesse permanecido na formação da nossa banda e se assim nós tivéssemos tido a chance de encontrarmo-nos com um produtor de porte em 1983, quando o BR-Rock 80's explodiu definitivamente na mídia mainstream, teríamos certamente chegado ao estrelato...".
Luiz Domingues.
Voltando ao começo de 1983, três meses de dificuldades se seguiram. Aguarde nosso próximo capítulo!
RESENHA - Teatro Lira Paulistana 1985 - A CHAVE DO SOL. NOTA - 10,00.
Dia 31 de janeiro de 1985 A CHAVE DO SOL faria sua terceira aparição com o incrível vocalista Francisco "Fran" Dias Alves, que vinha do grupo ANO LUZ. Por ser o primeiro show completo esse evento foi divulgado com a estreia do novo vocalista d' A CHAVE DO SOL, que à partir dai imprimiria uma nova identidade musical, cênica e visual à banda. A gravação desse show havia histórico para o grupo paulista de Hard Rock havia sido perdida em 1990, todavia foi encontrada e restaurada à partir de uma fita de rolo de 1/2 polegada garantindo qualidade excelente para o quinto bootleg da série lançada pelo baixista Luiz Domingues. Esse CD apresenta muito Hard Rock agitado, instrumentais inéditos, músicas de outros trabalhos com o Fran nos vocais e as últimas aparições de Rubens Gióia como vocalista. Acompanhe a transição da velha A CHAVE DO SOL mais jazz-rock e prog-rock para A CHAVE DO SOL mais pesada, com um vocalista de Heavy Metal, que ficou conhecida pelo LP "Anjo Rebelde", gravado pelo Fran.
Mudando pela penúltima vez de vocalista, a veterana A CHAVE DO SOL, naquele janeiro de 1985, resolvera radicalizar: se até então seus vocalistas tinham voz mais "aveludada" agora tentariam um vocalista de voz rouca e rasgada, que condizia com a proposta do grupo de "entrar no som dos anos 1980", que era mais rápido, pesado e direto do que o praticado até então. Esse CD ao vivo, o quinto da série lançada pelo baixista Luiz Domingues, indiscutivelmente é o de maior qualidade de todos e apresenta um show que mostra A CHAVE DO SOL do primeiro single dando lugar à mesma banda em seu primeiro EP. Isso quer dizer que: esse show já apresenta as canções Hard Rock que marcam o trabalho de estúdio de 1985 em diante, mas ainda contém, como se fosse uma despedida, um presente para os fãs antigos dos temas mais Jazz Rock que faziam o repertório do grupo desde sua fundação em setembro de 1982. O que nunca mudou foi o virtuosismo e convenções jazzísticas nas passagens de suas músicas, assim como a qualidade das mesmas.
O CD abre, sem introdução, com a instrumental "A Dança das Sombras". Com um clima mais Rock'n'Roll dos primórdios e muitos malabarismos no andamento, esse número foi lançado em CD, na versão de estúdio, no Bootleg volume 2 . Após esse aquecimento, com destaque para o solo de Rubens, Fran já chega mandando "Anjo Rebelde", um tema que os fãs estão acostumados a o ouvir cantando. Na sequência, a ecológica "Intenções", de Luiz Domingues, ganha sua versão definitiva na voz do estreante cantor. Diferente dos bootlegs anteriores, aqui o já citado baixista e o baterista José Luis Dinola esmigalham seus instrumentos, mas não cantam no CD. E, após essa dobradinha, Fran cumprimenta o teatro e segue um belo tema, da fase mais Jazz Rock cantada pelo guitarrista Rubens Gióia. O longo e até então inédito "Reflexões Desconexas" possui convenções intrincadas de bateria e baixo e o primeiro solo de baixo do disco. Segue a conhecida instrumental "Crisis Maya" e o baixista (e então comunicador do grupo) anuncia a entrada do vocalista Fran e segue-se a excelente e longa "No Reino do Absurdo", outra pérola! A canção instrumental, mais rock progressivo, foi intercalada com a inédita balada "Dama da Noite", cantada pelo guitarrista Rubens Gióia. Esse som mesclado ficou de fazer delirar os fãs da "primeira época" da banda e finalmente em uma só, ambas se encontram lançadas. Nesse tocante fazemos um parênteses para elogiar o quanto Rubens, além de tocar loucamente, sabia colocar sua voz em composições "mais leves" como essa. É uma pena que A CHAVE DO SOL não tenha lançado um disco com ele como vocalista em 1984.
"Teatro Lira Paulistana 1985" vem no formato envelope simples, sem plástico interno ou externo e mídia de cdr impresso.
Por ser o show de estreia do vocalista novo sente-se falta do mesmo, já que vêm ai mais dois temas instrumentais, "18 Horas", aqui com um contagiante solo de bateria e depois um trecho de "Átila". Essa não foi lançada oficialmente, mas está presente nos bootlegs 2, 3 e 4 e aqui fica como a introdução de "Luz". Fran retorna para a trinca final do CD. Para os fãs do LP com ele nos vocais, esse é o segmento mais interessante do álbum . Ele chega cantando a conhecida "Luz", em sua única versão na sua peculiar e rouca voz. Seguimos com a matadora "Segredos" e sua alta velocidade característica. O número está quase igual a versão de estúdio e é de se entender o porquê dos fãs de Heavy Metal terem começado a curtir A CHAVE DO SOL após o EP de 1985. Mais paulada vêm com a faixa "Ufos". Diferente da anterior, essa tem a letra ligeiramente diferente da que seria registrada em disco nos próximos meses e parte instrumental maior. Não obstante, segue a mesma enérgica e entusiasmada interpretação. Seria o encerramento, mas teve "Anjo Rebelde" de bis. Mas a mesma faixa de abertura do disco? Sim, porém aqui Fran solta totalmente a voz e ainda rolou um efusivo e imperdível improviso que fazem essa versão ser válida de ser conferida.
Finalizando, em termos de qualidade e gravação, esse bootleg tem qualidade de disco ao vivo oficial. A banda, outra vez, estava afinadíssima e com ganas e entusiasmo para fazer o seu melhor. Para os fãs de ANO LUZ e fãs específicos do Fran fica a impressionante exclamação de como ele cantava bem, mas também uma ponta de decepção de metade do repertório não se cantado por ele (sem desmerecer os demais interpretes e temas instrumentais). Para os fãs do trabalho do grupo nos seus primeiros anos temos dois temas inéditos muito bem interpretados pelo guitarrista Rubens Gióia. O EP "Anjo Rebelde" é representado quase inteiro no show, faltando "Um Minuto Além" e "Impeto", que ainda não haviam sido compostos. É um material de muito valor histórico e um presente para os fãs d' A CHAVE DO SOL. Captou o momento de transição da banda. É um disco que vai certamente encantar todos os admiradores d' A CHAVE DO SOL nos diversos momentos da carreira da pioneira banda.
Quem quiser adquirir o esse volume, e os outros quatro anteriores, deve contatar o baixista Luiz Domingues no e-mail ou pelas redes sociais:
Fran Alves: Voz Rubens Gióia: Voz principal nas faixas 4 e 6, backing vocals e guitarra. José Luiz Dinola: Bateria, backing vocals. Luiz Domingues: Baixo, backing vocals.
DISCOGRAFIA:
Luz / 18 Horas (Compacto, 7", 1984). A Chave do Sol (EP, 12", 1985). The Key (Full Lenght, LP, 1987). A Chave do Sol (Compilação, Cd, 2001). Ao Vivo 1982 / 1983 (Bootleg, Cd, 2020). Demo Tape 1983 (Bootleg, Cd, 2020). Teatro Piratininga /SP 1983 (Bootleg, Cd, 2020) . Ao Vivo em Limeira/SP 1983 (Bootleg, Cd, 2021). Teatro Lira Paulistana 1985 (Bootleg, Cd, 2021).
Teatro Lira Paulistana 1985 - Crossover Records - Nacional - Bootleg - 59" - 2020.