Lembramos que o caráter da gravação foi emergencial, nitidamente "precisamos tocar, alguém tem que contratar nossos shows e para isso necessitamos de um material de amostra". Adicionalmente, cada tema da mesma foi registrada em ensaios ao vivo em um único take, sem overdubs ou sobre-posições.
Em uma época em que o Hard Rock mainstream era gravado com produtores que cobraram preço de ouro e todo o nicho musical estava na mão das gravadoras, que queriam lançar moda e lucrar muito em cima delas, a A CHAVE DO SOL foi ousada. As músicas do grupo eram nada comerciais, em nada seguiam a cartilha em voga na época.
Mais do que as músicas não serem comerciais, o grupo apostou em três longos temas instrumentais que fretavam com o Fusion (Jazz-Rock) e o Blues Rock. Para ser mais démodé, ainda haviam dois covers na fita, um dos anos 1960 e outro dos primóridos do Rock'n'Roll, na década de 1950. As composições próprias com vocal não eram em nada convencionais e os arranjos evocavam, em consonância com a proposta do trabalho, o som clássico e idealizado de décadas passadas do Rock pesado.
Nesse momento da década de 1980 havia uma ideia senso comum de que tudo que já passado no Rock'n'Roll não era bom o suficiente para aquele tempo. Que a própria noção de Rock precisaria ser reconstruída por aquela geração. Ideologia essa que respaldava os novos estilos que surgiam e em que as gravadoras investiam. Um processo de retro-alimentação.
A CHAVE DO SOL, nesse momento, buscava contatos para se apresentar em bares, não, um contrato de gravação. Todavia, tal modus operanti das gravadoras era reproduzido no underground, pois já há mais de trinta anos, o que está na "crista da onda" é o que lota os bares. A CHAVE DO SOL teria então alguma chance de conseguir chegar lá? Sim e pelo seu próprio esforço e esmero na construção deste trabalho. Ainda que o caminho não tenha sido fácil, foi com essa fita que o grupo conseguiu seu contato com o programa de televisão A Fábrica do Som; que realmente os fez famosos. Novamente, a temporalidade, o démodé, o fora de moda, não existe para quem acredita no seu trabalho.
Analisando-se o registro, gravado em uma só aba de guitarra, salta aos ouvidos o grande esmero, sincronia e afinidade que os músicos d' A CHAVE DO SOL tinham entre sí. São músicas intrincadas executadas sem erros, como somente as horas intermináveis em incansáveis ensaios cotidianos permitem atingir. Ainda que o som de bateria esteja um pouco fraco, o timbre da guitarra é adequado e o baixo soa forte. As duas canções conhecidas da fita, são os números de abertura, "Luz" e "18 Horas" as mesmas do primeiro registro do conjunto, que sairia em compacto simples no próximo ano. São quase como uma cópia xerox, os mesmos arranjos, diferenças menores de execução aqui e acolá; dispensando maiores explanações. "Utopia", esse belo conto fantástico, foi inspirada pela versão do THE WHO para "Summertime Blues", porém é diferente o suficiente do modelo para ser acusada de plágio por qualquer maneira. Ela também é a única prova dos talentos do baterista José Luiz Dinola como cantor. Se A CHAVE DO SOL fosse o BLACK SABBATH, "Utopia" seria sua "It's All Right".
As outras duas faixas instrumentais são "Atila" e a longa "A Dança das Sombras". A primeira tem o gosto do TEN YEARS AFTER ainda dos anos sessenta, um jazz-rock com destaque para o trabalho impecável de Luiz Domingues. A segunda tem começo muito intrincado e, infelizmente, a guitarra de Rubens Gióia soa com timbre um tanto ardido. É uma canção mais difícil para o público em geral, e especialmente os dos barzinhos, tendo sido acertada a sua escolha para o final do k7. Esses quatro temas deveriam, contudo, ser oficialmente registrados.
Nos dois covers presentes, o de JIMI HENDRIX EXPERIENCE e de ELVIS PRESLEY, A CHAVE DO SOL fez o possível para manter o arranjo original, mas já dando mostras de sua originalidade. O destaque de ambos é Rubens Gióia. Os solos genuínos foram refeitos com muito bom gosto e o guitarrista se sai muito bem como vocalista. Seu inglês, ainda que não irretocável, é suficientemente bom (lembre como as bandas nacionais cantavam em inglês nessa época). Na composição de Perkins, A CHAVE DO SOL ainda fez um arranjo blues muito certeiro ao final.
Como a banda ambicionava os palcos, talvez o único erro da fita demo seja a ordem das músicas, por já colocar uma instrumental logo no começo do registro. Como é de conhecimento público, muitas vez os "responsáveis" por esses estabelecimentos nem se dignavam a ouvir os cassetes inteiros, o que justificaria colocar todas as "apostas", os destaques da fita no começo. Doravante, uma sugestão de ordem que pudesse ser mais eficiente seria "Luz", "Utopia", "Purple Haze", "18 Horas", Blue Suede Shoes", "Atila" e "A Dança das Sombras". Tal alvitre, por conseguinte, cai na ceara dos testes de possibilidades; já que como conta a História, esse fita caseira conseguiu abrir a porta necessária para fazer, naquele momento, A CHAVE DO SOL famosa.
Demo Tape, maio de 1983 (33:55).
Faço o download em Mp3 aqui:
http://www.mediafire.com/download/uhzuw863sk0n7xn/A+Chave+do+Sol-+Demo+Tape+1983.rar
01 . Luz (04:39)
02 . 18 Horas (08:37)
03 . Purple Haze (03:24)
04 . Átila (03:38)
05 . Utopia (03:11)
06 . Blue Suede Shoes (03:04)
07 . A Dança das Sombras (07:25)
Temas 02, 04 e 07 compostos por Dinola, Gióia e Domingues.
Tema 01 composto por Domingues.
Tema 03 compostos por Hendrix.
Tema 05 composto por Gióia e Domingues.
Tema 06 composto por Perkins.
A CHAVE DO SOL:
Rubens Gióia - Guitarra e Vocal (faixa 01, 02, 04).
José Luiz Dinola - Bateria e Vocal (faixa 05).
Luiz Domingues - Baixo.
Material armazenado em fita K7 e digitalizado em 2016
Fotos promocionais e ao vivo de 1983 : Seiji Ogawa
Material de portfólio : Acervo de Luiz Domingues
Produção para a Internet em 2016 : Jani Santana Morales
Resenha por Willba Dissidente.
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