25 de dezembro de 2012

Amigos relembram o saudoso Fran

Foi nos últimos dias de 2008. Eu conferia os comentários de meus vídeos no youtube. Acabavam de deixar um na música "Estrelas (Testemunhas Inválidas)" do ANO LUZ. Fiquei estarrecido com o conteúdo do mesmo e daí correi para comunidade A CHAVE DO SOL no orkut e infelizmente confirmei a notícia. O Fran havia falecido no natal do mesmo ano.

Eu começei a gostar d' A CHAVE DO SOL por causa do disco que o Fran gravou. Aquele E.P. é tão bom e significava tanta coisa, que me parecia que eu ia achar bom "qualquer coisa" que o grupo lançasse na sequencia. Anteriormente em 2008, após anos curtindo o "EP da Chave", eu havia descobrido que o Fran havia feito parte do grupo ANO LUZ, que havia acabado sem, então, deixar registros, e que eu montei um vídeo em homenagem; clip esse que passou a se destacar no youtube e foi seguido de muitas outras homenagens.

À época eu não escrevia no Whiplash.net, não existia nosso blog e fiquei triste do falecimento de um músico que eu tanto admirava ter passado em branco, batido e sem alarde. Esse sentimento que me levou nesse aniversário de quatro anos sem o Fran deixar esta singela homenagem.

Fran ao vivo com o ANO LUZ em 1984.
O Fran chamava-se Francisco Alves, nome de um famoso cantor dos anos 1930 e 1940. Sua entrada n' A CHAVE DO SOL, se deu por intermédio do poeta Julio Revoredo. Além dos dois ep's gravados, Fran deixou esposa, dois filhos e uma legião de fãs; todos exclusivamente com coisas boas a falar dele. Confira abaixo:

"Fran era um cara humilde, trabalhador e muito esforçado. Sua voz era de uma potência absurda e a rouquidão natural dava-lhe um diferencial, um autêntico"drive" na garganta. Sua performance de palco era dramática. Tinha um gestual forte e seu olhar fulminava a platéia. Gravou o segundo trabalho da banda, em 1985, o EP sem título que os fãs apelidaram de "Anjo Rebelde", a primeira faixa da bolacha. icou pouco tempo na banda. Entrou no final de dezembro de 1984 e em outubro estava de saída. Curta, porém marcante participação".

(Luiz Domingues, baixista e membro fundador d' A CHAVE DO SOL)

"Ao querido amigo Fran, que esteja descansando em um bom lugar.Ter sido baixista da banda ao lado do Fran foi um privilégio.Quantas vezes o Fran, mesmo com algum problema de saúde ía para o palco e mesmo assim cantava maravilhosamente. Era um profissional acima de tudo. Saudades do amigo que se foi. R.I.P.".

Osvaldo Júnior (baixista do ANO LUZ)

"Sobre o Fran, as principais qualidades dele eram a humildade, carisma e talvez ingenuidade; no bom sentido. Era uma pessoa muito simples e muito talentosa; com um talento natural para musica. Era fácil e proveitoso conviver com ele..."

(Olavo Jafet, guitarrista do ANO LUZ)

"Saudades do Fran!"

(Rubens Gióia, guitarrista e membro fundador d' A CHAVE DO SOL).

"O Fran foi a verdadeira voz d' A CHAVE DO SOL".

(Beto Cruz, vocalista que substituiu o Fran n' A CHAVE DO SOL).

"...estive com o Fran algumas vezes nos anos 80, cantava muito, tinha um vozeirão, voz rouca e potente, grande cara". 

Billy "The Kid" Albuquerque (vocalista da banda MAMMOTH, no orkut)

"... num show ao ar livre no Parque da Aclimação, que eu descobri o vocalista que para mim seria o ideal para A CHAVE DO SOL. Era o show de uma banda chamada "ANO LUZ" e o vocalista, dono de uma voz rouca, potente e metálica, chamava-se Fran. Após o final do show, eu fiz uma sutil abordagem, expliquei-lhe a situação e dias depois ele entrou para A CHAVE DO SOL (...) Fran, aonde voce estiver, um minuto além vamos nos encontrar".

(Julio Revoredo, poeta e letrista das músicas "Ufos" e "Segredos", que foram gravadas no EP de 1985, d' A CHAVE DO SOL e na voz de Fran Alves).

Eu agradeço a todos que me ajudaram a montar esse tributo a uma das melhores vozes do rock pesado brasileiro, e que deixou boas energias e lembranças nas bandas ANO LUZ e A CHAVE DO SOL. Encerro essa homenagens fazendo votos junto ao amigo Luiz Domingues:

"Lá onde ele está agora, deve estar cantando uma letra do poeta Julio Revoredo que eu gosto muito e que num verso diz : "A Humildade é o caminho para a felicidade superior".

5 de dezembro de 2012

Entrevista inédita com Rubens Gióia

Saudações! Orgulhosamente vos apresento um dos conteúdos criados exclusivamente para o nosso blog. Trata-se de uma entrevista inédita com o guitarrista e membro fundado d'ACHAVE DO SOL, o guitarrista Rubens Gióia. Esse papo foi conduzido por mim com uma pauta dupla: o momento atual da banda e curiosidades históricas.
Como minha formação não é em jornalismo, optei em conduzir a pequena entrevista - feita por e-mail - com perguntas bem abertas, que possibilitassem ao interlocutor (Rubens, no caso), discorrer à vontade; ainda sob o risco de se perder o objetividade da réplica. Também não quis perguntas diretas ou "bobinhas" (exemplo, 'o que você está achando do blog), no intento de ir ao ponto do que interessa à todos nós, fãs de Hard Rock. Deixe sua opinião, dúvida ou sugestão no espaço de comentários e ótima leitura!

O CACHORRO QUE CURTIA BLUES, O QUE É E O QUE PASSOU.

por Willba Dissidente*.


Rubens Gióia no Victoria Pub em 1983
Rubens Gióia no Victoria Pub em 1983.


01 . Quando a banda carioca METALMORPHOSE voltou à ativa em 2009, comemorando os 25 de seu primeiro disco, eu conversei – informalmente – com o baixista André Bighinzoli, que me contou sobre os planos do grupo de relançamentos e gravação de material inédito. Ao longo destes 03 anos, muito do que ele me contou realmente aconteceu. Então, eu pergunto, quais são os planos de retorno d ‘ A CHAVE DO SOL? Em boas palavras: o que devemos esperar dessa volta?

Rubens Gióia: A expectativa era grande...mas tanto o Zé hoje no VIOLETA DE OUTONO e o Luiz na banda PEDRA inviabilizam...quase aconteceu, mas como estão trabalhando ativamente não foi possível. Com a aquiescência deles montei uma nova formação, até porque A CHAVE DO SOL é uma franquia minha, criada quando eu tinha 14 anos, e está em estudos...quem sabe em algum momento uma reunião seja possível, nos damos bem.

02 . Cada uma das vezes que A CHAVE DO SOL retornou, você trouxe consigo uma nova formação, sempre com músicos expressivos e experientes em rock pesado. Como foi o processo de seleção do time atual d ‘ A CHAVE DO SOL?

Rubens Gióia: Respeito musical e amizade...basicamente...e respeito à essência da Chave.

Rubens ao vivo no  Clube Sete Praias, em Interlagos (São Paulo), durante o "Outubro Music Festival", 1986.
03 . A CHAVE DO SOL é um grupo que passou por muitas mudanças de estilo dentro do rock pesado, indo da linha do jazz-rock ao hard rock mais comercial, por vezes em músicas com aura de heavy metal; alterando, gradualmente, as composições do português para o inglês. Com que temática, estilo e língua você preferiria compor músicas novas com a banda?

Rubens Gióia: A Chave mais notória, que se pautava pelo perfeito entendimento do Zé, mais jazzista, e o Luiz, um músico completo e eclético...acho que o peso vinha das minhas mãos...

04 . Quando você não quis mais continuar com a banda em 1987, o sucederam guitarristas que se tornaram muito famosos no metal nacional – Eduardo Ardanuy (DR. SIN) e Kiko Loureiro (ANGRA). Estes músicos, entretanto são de outros gêneros musicais de metal, enquanto que você manteve-se no ‘mesmo estilo de som’ na PATRULHA DO ESPAÇO e no YANKEE. Você nunca cogitou fazer um outro estilo de mais aceitação comercial para atingir maior sucesso?

Rubens GióiaNunca entendi arte como comércio, apesar de querer subsistir dela...saí justamente porque A CHAVE DO SOL estava tomando rumos mais mercadológicos que artísticos.


05 . O grupo mineiro HOLOCAUSTO fez um disco, Campo de Extermínio (1987), abordando o nazismo de maneira que há muitos que o acuse de apologia ao regime de exceção. A CHAVE DO SOL possui músicas que tem postura política oposta à citada, denunciando desigualdades sociais e a opressão. Quem assistiu o documentário “Ruido das Minas (2009)” viu o HOLOCAUSTO afirmar que apenas contava uma história da Segunda Guerra Mundial e não apoiava o Reich. E A CHAVE DO SOL, uma música como Sun City somente conta a história da lutas dos negros, ou a banda acreditava na mensagem passada?

Rubens Gióia: No nosso caso acreditávamos e certamente acreditamos...sempre achamos que a arte é uma arma poderosa...temos posições humanísticas e achamos que pudéssemos ser um instrumento de conscientização...não panfletária nem partidária, mas a serviço de levar opinião e esclarecimento...quem foi às nossas gigs no Lira Paulistana viu uma mistura de som, performance, literatura e atitude...creio...

A CHAVE DO SOL clássica, antes da gravação do primeiro compacto. Zé Luis (bateria), Luiz Domingues (baixo) e Rubens Gióia (guitarra).
06 . Conversando com Nivaldo da loja STAND UP, galeria do rock de São Paulo, ele me contou que quando tocava com a banda SUBURBIO (que incluiu o guitarrista Edgar Scandurra) fez um show com A CHAVE DO SOL na Av. Ibirapuera numa casa chamada APonto. Isso ocorreu entre 1978 e 1980, época que o grupo contava com Dedé e Silvio, antes do início oficial da banda em 1982. A CHAVE SOL antes do Luiz Domingues e do Zé Luis era o mesmo grupo? Há alguma estória interessante dessa época que você queria contar ao blog?

Rubens GióiaTá bem informado, hein? Realmente...foi uma das casas mais bacanas que conheci...Aponto...como falei, A CHAVE DO SOL foi um sonho meu de adolescência...nesta busca entrei na SANTA GANGUE e lá conheci estes tipinhos que compraram meu sonho...posso dizer que A PATRULHA DO ESPAÇO, na pessoa do Jr (nota: Rolando Castello Júnior) , foi o Grande padrinho...o conheci neste bar e ele abriu a casa dele pra que eu assistisse ensaios e até emprestar equipamento pra essas gigs no bar...vale ressaltar uma vocalista que tivemos, a Verônica...uma moça de 1.80 modelo loira com a voz da Tina Turner, que eu conheci num bar chamado Deixa Falar, antes be bop alula que lançou MUTANTES e TERÇO...aliás, palco da primeira jam da CHAVE DO SOL mais conhecida...a primeira vez em que tocamos juntos eu, Zé e Luis, compusemos 18h, que seria nosso primeiro “hit”. Além de Scandurra, neste bar eu vi o grande guitarrista Renato Ribeiro e o embrião do ULTRAGE À RIGOR, entre outros... O Aponto bar virou uma segunda casa pra mim...conviver com músicos desse naipe foi determinante...interessante é que havia um São Bernardo, o cão mesmo, que só saía da casinha dele quando se tocava blues...o palco era suspenso e ele se posicionava em baixo e à frente uivando...AUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!!...tempos bons, honestos e livres...

Agradecimentos especiais aos amigos Rubens Gióia, pelo tempo e atenção, e ao Luiz Domingues, que cedeu as imagens que ilustram essa matéria.

* Willba Dissidente é fã das bandas de Hard Rock e Metal das décadas de 70 e 80, dois mais variados países. De maneira diletante, ele escreve no site Whiplash, edita vídeos e legenda curtas, longas e média-metragens; além de ter se envolver com eventos de Rock esporadicamente. "Tratamento mainstream ao underground" é seu lema em todos esses hobbies.