"Sim, foi uma emoção diferente estar às vésperas da estréia com A CHAVE DO SOL, pois sentia que finalmente estava reativando o sonho primordial, e acalentado no tempo do BOCA DO CÉU (...) Foi o estopim de uma carreira vitoriosa e que arrebatou fãs, sendo objeto de discussão permanente nos foruns sobre o Rock brasileiro".
Luiz Domingues.´
Para debutar nos palcos A CHAVE DO SOL contratou o, já então, veterano vocalista Percy Weiss. Havendo passado pelos grupos MADE IN BRAZIL e PATRULHA DO ESPAÇO, naquela época Weiss estava sem trabalho autoral, tocando covers na noite por dinheiro. Após ligação telefônica, o vocalista os recebeu em seu apartamento, localizado no cruzamento da Av. Brigadeiro com a Av. Paulista, em São Paulo. Em sua autobiografia, o baixista Luiz Domingues, avalia que o cantor tratou o grupo com altivez. Os jovens músicos estavam diante de alguém que admiravam e assumiram postura subserviente. Ainda que não tivessem a experiência do cantor, Rubens já havia lançado um EP com o SANTA GANG (ver edição anterior), assim como Domingues; que havia registrado o single ao vivo "Sem Indiretas" do LÍNGUA DE TRAPO. O baterista Zé Luis não havia gravado disco ainda, mas foi considerado pelo cantor como sendo "ortodoxo".
Ao contratar Percy Weiss para o primeiro show, A CHAVE DO SOL fez sua primeira dívida. O motivo foi que para garantir a presença da estrela, o guitarrista Rubens Gióia ofereceu ao músico um cachet maior do que o combinado anteriormente com o trio. O cantor não recusou. Ainda que com certo distanciamento, Weiss agiu profissionalmente nos ensaios, que foram realizados no próprio "Deixa Falar", por cortesia da proprietária do local, a Dona Sabine.
A nascente A CHAVE DO SOL dependeu também da amizade de Rolando Castello Júnior, baterista da PATRULHA DO ESPAÇO, que emprestou pedestais, caixas, microfones e um multicabo que acoplado ao P.A. que Domingues trouxe consigo do TERRA DE ASFALTO, possibilitou qualidade sonora "decente" à estreia. O "Deixa Falar" não tinha mais todo potencial de luz dos tempos que era o "Be Bop-a-Lula", já que alguns spots não mais acendiam e muitas gelatinas estavam pálidas. Sabendo que o público seria predominantemente de parentes e amigos, ficou resolvido fazer tão somente poucas filipetas, dispensando os cartazes.
Chegada a grande noite, os músicos às 16 já estavam com o palco montado e após passar em seus lares para se alimentarem, banharem e apanharem o visual de palco, às 20 horas todos voltaram ao Café Teatro. Sobre a filipeta acima, ocorreu um erro ortográfico no nome do vocalista contratado. Desculpas foram pedidas, mas se houve falha gráfica na esparsa divulgação, o show ocorreu magnificamente bem. A banda foi aplaudida fervorosamente. O público pagante foi de sessenta pessoas, entre elas o poeta Julio Revoredo, que seria parte fundamental da A CHAVE DO SOL no futuro. Pontualmente à 21 horas A CHAVE DO SOL ganhou o palco. Muitos podem estranhar este horário, mas em início dos anos 1980, os shows de rock mantinham o padrão das peças teatrais. Dos anos 1990 para cá ficou o costume das bandas começarem as apresentações depois da meia-noite.
"A primeira música foi "Purple Haze", do JIMI HENDRIX EXPERIENCE seguida de "Foxy Lady" e "Wild Thing", com o Rubens cantando. O Percy quis começar só na quarta música, para entrar de forma triunfal, e aí tocamos "Black Night", do DEEP PURPLE (...) a última música, foi , "Listening to you" do THE WHO. Deixamos "18 Horas" para o final do show, e curtimos demais a acalorada recepção do público".
Com a renda foi possível pagar o cachet "astronômico" que o Rubens havia prometido ao Percy. Sobrou uma parcela ínfima, guardada para investir na banda. Esse não foi o "único show" com o vocalista. O trio foi convidado pelo mesmo para tocar numa canja, no intervalo de uma banda cover relativamente famosa da época, chamada ÁRIES, numa apresentação no bar "790", que havia mudado de nome para "Pierrot Lunar", no bairro do Itaim-Bibi, a ser realizada na quarta-feira seguinte. Essa apresentação foi armada pelo próprio Percy, que era muito amigos dos músicos do ÁRIES.
Domingues, Gióia e Dinola na época dos primeiros ensaios na casa do guitarrista. |
"Os membros da banda ÁRIES, ficaram revoltados, pois a equipe da Rede Globo, filmou bem na hora em que estávamos nós no palco, e não eles, e pior: usando o equipamento deles...".
Uma semana depois, A CHAVE DO SOL, sem ser citada, apareceu na televisão tocando "Black Night". Essa foi a primeira aparição em televisão da banda, porém infelizmente (por outra circunstância do destino), o registro em VHS da mesma foi perdido. Voltando ao show, ao final do mesmo o Percy procurou a banda, agradeceu a participação, e lhes disse, que não obstante ter gostado do grupo, que tinha outros projetos etc, encerrando assim sua participação na A CHAVE DO SOL.
Com o Rubens Gióia assumindo temporariamente os vocais junto à guitarra, a banda saiu marcando mais shows como power trio. Duas datas novamente no Café Teatro Deixa Falar aconteceram, 22 e 23/10, mas sem aquele "boom" da estreia, e tendo público de 10 pagantes em cada...A Dona Sabine havia novamente ajudado a banda, com um conhecido na "Folha da Tarde", atualmente chamado de "Agora", a dona do bar possibilitou a publicação de uma mini-matéria sobre a banda (ver foto na edição anterior); a primeira vez que saíram na grande mídia!
Ainda que a proprietária do antigo Be Bop-a-Lula estivesse sendo muito amiga, a banda buscou seu próprio espaço para ensaio. Por iniciativa de Gióia, que pediu a seus pais, um quarto bem grande que estava vazio em sua residência, que ficava na Rua Desembargador Aguiar Valim (uma travessa da Av. Santo Amaro, bem próximo ao Hospital São Luiz) se tornou o estúdio d' A CHAVE DO SOL. Dali em diante, durante quatro anos, aconteceram ensaios diários, quase sem interrupções, até 1986.
"Isso explica porque ao vivo, A CHAVE DO SOL tinha um padrão de excelência, pois tínhamos uma disciplina férrea. Ficávamos horas ensaiando, repetindo trechos até nos darmos por satisfeitos com a performance alcançada (...)Nos reuníamos todos os dias, das 15:00 às 22:00 em ponto. Muitas vezes, olhávamos no relógio e se faltassem dois minutos para as dez da noite, propúnhamos repassar algum detalhe para aproveitar aqueles poucos segundos. Sei que parece exagerado (e era...), mas vendo pelo lado positivo, que força de vontade"!!
Nesse inteirim, novas composições surgiram. "Luz" (Domingues), que foi carro-chefe do primeiro registro fonográfico da banda, um rock'n'roll tradicional com letra mezzo esotérica foi a primeira delas. A segunda, "Intenções" (Gióia, Dinola e Domingues), é um belíssimo jazz-rock cantando pelo baixista com letra de cunho ecológico que nunca conheceu gravação oficial.
Foi então que, novamente, o guitarrista se lembrou de alguém que ele vira se apresentando e poderia topar ser vocalista na A CHAVE DO SOL. Esse pessoa era totalmente diversa do Percy Weiss... não só em idade, carreira, como até em gênero!
Confira no terceiro capítulo.
Excelente, Will !
ResponderExcluirNão me canso de elogiar o seu trabalho magnífico de resgate e preservação da história da banda.
No tocante ao texto, sua capacidade de reinterpretar o meu texto original, parte de minha autobiografia, dando-lhe diversas nuances diferentes, faz dele uma segunda via muitíssimo enriquecedora. Estou orgulhoso dessa verniz que o Blog proporciona aos fãs do trabalho da banda.
Que venha o terceiro capítulo !!
Pode falar o que quiser mas o Be Bop a Lula da santo Amaro era o máximo.
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