Uma caracterísitica comum aos fãs de rock é não somente ouvir a música, mas ler e absorver todas as informações contidas nas capas e encartes de seus LP's e CD's. Quem, assim como eu, mantém esse habito, ira se deparar com muitas informações importantes e até surpreendentes. No caso do segundo disco d'A CHAVE DO SOL, o ouvinte ira encontrar um nome da coautoria das músicas "Ufos" e "Segredos".
Esse nome é Julio Revorêdo, poeta e personagem fundamental na trajetória da banda.
Nascido em São Paulo, capital, no bairro do Paraiso, em 1959, Julio Revorêdo Peres, é um poeta que já trabalhou, além d' A CHAVE DO SOL, com as bandas PATRULHA DO ESPAÇO e SIDHARTA. Revorêdo é bibliotecário de formação e sua produção poética é mais orientada pelo cinema fantástico de David Lynch, Stanley Kubrick, passando por Glauber Rocha e indo até as produções cult do 'mestre do filme B' Roger Corman; além de ser fã de atores carismáticos como Dennis Hopper, Daniel Day Lewis, Roddy MacDowall, Montgomery Clift, Barbara Hershey e James Dean. Em se tratando de rock,o poeta tem preferência pelo peso sessentista dos ingleses do CREAM e da carreira solo de ERIC CLAPTON, além de, é claro, OS MUTANTES.
Além da composição das músicas citadas (e outras que não entraram no disco) e ajudar na produção de palco, foi Julio Revorêdo que indicou o vocalista Fran para se juntar à A CHAVE DO SOL. Esse e outros assuntos relevantes estavam na pauta do bate-papo que o nosso blog teve com o artista. Confira abaixo!
"ROCK PESADO E POESIA SEM CONTRADIÇÕES"
por Willba Dissidente.
01 . Julio Revoredo, todos os fãs d' A CHAVE DO SOL que tenho contato só
conhecem pelos créditos do LP de 1985. Peço, então, como primeira
pergunta, que você se apresente enquanto poeta para os leitores do blog.
Qual sua formação? Período literário favorito, principais influências e
qual obra você considera fundamental à sua carreira?
Julio: Como poeta, minhas principais influências são Castro Alves, Pablo Picasso (que também se dedicava à poesia), Luis Sergio Person, James Joyce, Walter Hugo Khouri, Francis Bacon, Robert Sordello Browning, os Concretistas (movimento literário) , Cassiano Ricardo, Salvador Dali (pintor do surrealismo, que trabalhou até com ALICE COOPER), Jackson Pollock (pintor do movimento do expressionismo abstrato), Beat Generation, além dos cineastras e atores já citadados. O período literário que mais me apetece é o Modernismo e a obra que considero fundamental é Finnegans Wake, de James Joyce.
02 . Lembro que quando cursei Ciências Sociais de ter feito amizade com o
pessoal da Letras, prédio ao lado, e alguns desses amigos se dedicavam à
poesia. Destes, a maioria era avesso ao "Rock Pesado", por, em geral, o
achar "enlatado" e "americanizado"; ainda quando cantado em português.
Em contrapartida, os fãs de rock, em especial o pessoal do Heavy Metal,
não demonstram, idealmente falando, apreço por poesia. Como foi
conciliar então ser um poeta na efervecente cena underground paulista de
início da década de 80?
Julio: Eu gosto de poesia e de rock pesado,e sinceramente nunca pensei sobre essas antípodas.
03 . Como começou seu envolvimento com A CHAVE DO SOL? Desde que época
você acompanhou a banda? Como você via o grupo, que tocava um som na
linha clássica do jazz-rock, hard rock, num cenârio que voltado, quase
que exclusivamente ao Heavy Metal? Em boas palavras: A CHAVE DO SOL se
misturava bem à época e local, junto a nomes como SALÁRIO MÍNIMO,
CENTÚRIAS, AZUL LIMÃO e o outros grupos, hoje clássicos do som pesado
nacional?
Julio: O meu envolvimento inicial com A CHAVE DO SOL, deu-se através de um amigo roqueiro, que viu o anúncio do show da Chave na frente do bar "Deixa Falar", e por curiosidade falou para mim : "Vamos entrar ! Entramos e por coincidência o pessoal da Chave estava lá dentro, e voltamos mais tarde para o que foi o primeiro show d' A CHAVE DO SOL. De cara eu gostei do som, que mesclava covers e algumas poucas músicas que fariam parte de seu futuro repertório.
No aspecto convívio, A Chave se dava bem com a maioria das bandas. No tocante à música, A Chave destoava da maioria das bandas, inclusive pela criatividade e qualidade superior às demais bandas.
04 . Como surgiu a idéia de sua contriubuição no EP de
1985? Você já havia começado a compor com a banda antes da entrada do
Fran?
Julio: Eu ja escrevia antes da entrada do Fran, e minha participação deu-se exclusivamente por causa do Luiz Domingues, que sempre foi o meu incentivador, ao contrário do Rubens e Zé Luis Dinola, que preferiam mais o som instrumental. Aliás, a minha participação como letrista gerou ciúmes de alguns amigos do Rubens, por causa de minha poesia não seguir o esperado padrão estético, do começo, meio e fim.
05 . Sabemos que você que escolheu o Fran após ver um show do ANO LUZ e
saber que a banda estava decidida à encerrar as atividades. O que você
achava do ANO LUZ, tanto no instrumental como nas letras? Quais as
outras bandas que você assistiu show na época à procura de um vocalista
para A CHAVE DO SOL? Houve mais alguém que você achava ser indicado ao
microfone da Chave?
Julio: Não foram muitas bandas, a única que me lembro de ter asssistido a um show, além do ANO LUZ, foi o SALÁRIO MÍNIMO. A escolha do Fran foi puramente por sua voz, uma vez que só assisti àquele show, por isso não posso avaliá-lo. E para mim, ao contrário da grande maioria que preferia o Beto, eu sempre achei o Fran infinitamente melhor cantor.
06 . O saudoso Fran também escrevia música e
suas letras eram fortes e impactantes. Como foi então para você,
enquanto autor, essa convivência artística? Você acompanhou o processo
de gravação do disco? Você pode nos dizer como aconteceu? Mais, qual
suas impressões ao ouvir o resultado final? Finalizando, o que você pode
dizer da recepção do disco por parte da crítica e do público?
Julio: Eu achei ótimo ter um outro letrista, principalmente pela qualidade do teor político de suas letras, até porque os nossos estilos eram opostos. A convivência foi pouca, mas boa, pois eu era só um letrista, e ele além de letrista, cantor.
Eu nao acompanhei o processo de gravação do disco, apenas uma vez o Rubens mostou-me numa fita cassete o esqueleto da musica "Ufos" (era uma fita de pré-produção). O resultado final para mim foi bom, e engraçado, sempre que eu penso nesse disco, não são nas minhas músicas, mas sim da melhor música do disco, que é "Um Minuto Além".
Em relação à recepção, não posso dizer nada.
07
. O Fran deixou a banda no final de 1985, sendo substituido por um
cantor de voz e composições bem diversas das dele. Você participou dessa
escolha também? Em retrocesso, como você avalia esse processo da
substituição do Fran?
Julio: Eu não participei, e como já disse antes, A Chave vocal, não instrumental, o cantor é o Fran
08 . Nos outros dois discos d' A CHAVE DO
SOL, a saber, "The Key" e A "New Revolution" a sua poesia de vanguarda
não é encontrada nas letras. Por quê?
Julio: Porque já havia uma influência começada com o cantor Beto. Já havia uma direção naquela época para letras em inglês, eu ate poderia vertê-las, mas, eu acho que o meu tempo com A Chave, tinha sido o tempo anterior.
09 . Sua poesia só é
encontrada em música, após o E.P. de 1985, na PATRULHA DO ESPAÇO (disco
"Cronophagia", de 2000). Como foi seu envolvimento com o SIDHARTA? Você
trabalhou com outras bandas, ou existem outros grupos que você tem
vontade de trabalhar?
Julio: A primeira vez que vi o Luiz Domingues, foi num bar chamado 790 (pronunciava-se "Sete Nove Zero"), no Itaim Bibi (bairro da zona sul de São Paulo), um ano antes de surgir A Chave (numa apresentação da banda cover, "terra no Asfalto"). A partir da Chave, nos tornamos verdadeiramente amigos, e eu passei a acompanhar suas bandas. Eu acho que no Sidharta,o Luiz pode ter visto a possibilidade de uma nova parceria, o que ocorreu no CD "Cronophagia" (da Patrulha do Espaço). Não trabalhei com outras bandas, mas não vejo nenhum problema em fazê-lo.
10 . Encerrando, esse espaço para você.
Julio, o blog: A CHAVE DO SOL lhe agradeço que pelo música que você
legou a todos os fãs e pela entrevista. Um grande abraço!
Julio: Obrigado pela lembrança. Achei as perguntas boas, simples e diretas.
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Quem tiver interesse em conhecer mais poesias do Julio Revorêdo, pode visitar o blog2 do baixista original d' A CHAVE DO SOL:
http://blogdoluizdomingues2.blogspot.com.br/search/label/Poeta%20Julio%20Revoredo
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O blog: A CHAVE DO SOL agradece ao amigo e baixista Luiz Domingues, que se esforçou para que a entrevista ancontecesse, me colocando em contato com o responsável pela frase "a humildade é um caminho para felicidade superior". Aproveito para deixar um salve para a amiga, e antiga vizinha, Ana Castilho, que acompanha e incentiva o blog. Reitero meus agradecimentos a todos que fazem esse meu hobbie com o blog valer cada segundo de esforço. Até a próxima com mais material inédito.
Está de parabéns o Blog por publicar essa entrevista emocionante do poeta Julio Revoredo.
ResponderExcluirDe fato, atesto a importância vital que ele teve na carreira da banda, não só pelas letras que tornaram-se músicas gravadas oficialmente, mas também pelas que não foram gravadas e sobretudo, pelo suporte que nos deu em vários shows, fornecendo textos, ideias e ajudando na produção, literalmente.